OS MITOS DESSE CARA
Incluído na trilha sonora da novela “Seu Jorge”, Roberto Carlos está de volta nas paradas de sucesso. “Tentando” ser o cara. Quem colocou “Esse cara sou eu” na novela, acertou em cheio no objetivo. Vi o primeiro capítulo. A música é um contraste na trama.
Enquanto o enredo mostra o lado mais feio das pessoas que somos, Roberto Carlos cantando é o contraponto. A música serve para um desfile do nosso conservadorismo hipócrita. O lado que adoramos exibir quando estamos em evidência. Fingir é uma arte. E somos todos artistas natos.
Corremos o risco de “Esse cara sou eu” virar uma febre. Para todos os lados que se olhe, enxergamos alguém querendo imitar. Como se fosse difícil. Viver de utopias, não é um defeito. Todos nós temos as nossas. O perigo começa quando escancaramos apenas as boas utopias. Deste ponto, para a hipocrisia é um pulo.
Vou respeitar a opinião de quem discordar. Deveríamos deixar “Esse cara sou eu” guardado nos nostálgicos anos sessenta. Não que o passado fosse muito diferente do agora. No século XXI, ele viajou na máquina do tempo e está meio perdido. Sem saber o que veio fazer aqui. Definidamente, “Esse cara sou eu” desfocou-se do contexto.
E será engolido pelos sons atuais que embalam nossos jovens. Com uma advertência. Muitas das estrelas que cantam esses ritmos se escondem atrás deles, para camuflar o seu conservadorismo. A sua hipocrisia. O mundo artístico é outra válvula de escape. Nem sempre letras e canções alucinantes mostram a verdade de quem está cantando. Pode ser apenas uma fuga. Um me engana que eu gosto.
No domingo pela manhã, eu assisti a parte final do TVZ no canal Multishow. Diante de videoclipes legendados como “Sober” da cantora Pink, ou “Love the way you lie” com Rihanna e Eminem, a impressão é que estamos vivenciando uma revolução contra os costumes conservadores. Cuidado com a primeira impressão. Ela pode ser enganadora.
E somos constantemente desafiados. Temos todas as ferramentas a nossa disposição, e não conseguimos nos distanciar do nosso conservadorismo. E do desembarque na hipocrisia. Talvez, esteja mesmo no DNA. Abrimos uns trinta centímetros de distância na madrugada de um sábado qualquer, saindo de uma balada ou de um motel. Nem sempre bêbados. E no domingo quando acordamos, estamos de volta na estaca zero.
Ser esse cara de alguém não exige muito esforço. Basta pensar nela toda hora. Acordar no meio da noite pra dizer: Eu te amo! Ser seu herói. Abrir a porta do carro. Uau! Difícil é você ser esse cara de você mesmo. Pensando em alguém toda hora. Dizendo eu te amo para alguém no meio da noite. Posar de herói. E depois viver o dia a dia de mãos dadas com a hipocrisia. Você também não saiu da estaca zero.