Que queres?
Viver nos sonhos, a concretização do impossível?
Do real não vives, vegetas então?
Ou para ti, viver é isso?
Essa coisa dormente, vaga, nula...
Essa busca constante de uma resposta,
Onde não houve ao menos uma pergunta?
Esse passo descompassado, trôpego, vacilante,
Que não segue o ritmo das andanças?
Essa debilidade que não é ao menos herança,
Herdada das entranhas?
Ou a herança é verdadeira?
Viver é isso?
Titubear as mãos no escuro...
Acariciar uma migalha,
Como se fosse dádiva dos céus?
Acalentar uma mentira que infringes a si própria?
Sangrar os olhos a cada “não”
Morrer um pouco,
A cada certeza do incerto?
Viver é isso?
Tombar vencida,
Quando sequer lutastes?
Ou para ti, a vida só possui um nome?
Os outros valores... Relegas ao nada?
Com quais direitos?
Possuis esses direitos?
Já não buscas a tua verdade, mentes...
Não?!
Ah! Sim. Sim. É fato.
Buscas um Deus?
Apenas um amor?!
Lamento. Não pode ser teu!
Por certo és covarde...
De que tens medo afinal?
Da verdade?
Tu a defrontas a cada instante,
Premeditado...
Sei! Preferes o engano.
Não?!
Não aceitas a derrota?
Perder faz parte da vida,
ainda que não fizesse, resta algo pelo qual devas lutar?
Tenho certeza que não,
O que esperas então;
Um milagre?
Quero crer que não,
Até a fé,
Alento de todo o vivente,
Já não mais te acompanha.
Esperança! De que exatamente?
Não. Não há mais esperança...
Orgulho?!
Passou longe de ti...bem o sabes!
Porque não aceitas o real, o palpável?
Não podes?
Tu és espectro de mulher, sabia?
Não? Dizes então,
E quando tiveres diante de ti,
Vivo. Escaldante, palpitante, o limite,
A consumação,
Do que já não mais existe,
A barreira indiferente dos séculos,
A separar-te da alma amada,
O fim inexorável das tuas buscas,
Rasgando frio como o aço do punhal, os teus sentimentos,
Estás preparada?
Possuis outros valores que não girem em torno de um nome?
Não?!
Ah! Então, tu és uma sombra do outro!
E como sombra,
Jamais haverás de ser respeitada como mulher...
Acorda, espreguiça, abra a janela de tua alma,
olhe o horizonte...
O mundo lá fora,
Coloca teu traje de andarilha,
Cigana menina,
Empunha tua rosa,
Rubra Rosa,
E, dançando, rodopiando, girando,
Siga a trilha...
Não pare para descansar,
Caminhe... Sempre em frente,
Busque, procure, revolva cada palmo de terra, cada pedra,
cada uma das reentrâncias de si mesma,
até que finalmente possas reencontrar;
A MULHER ...que nascestes para ser!