O Bau Misterioso da Chica
A Chica era uma mulher muito bonita, alta e morena, de cabelos pretos lisos e curtos. Tinha mais ou menos 1.75m de altura.
Um certo dia, chegando a sua casa como de costume pude ver que a Chica havia saído para fazer compras porque a mesa estava cheia de pacotes e sacolas.
- Chica eu posso pegar café pra você?
- Na verdade a minha intenção era outra, precisava saber o que havia naquelas sacolas
- Chica, você comprou o que?
-Você foi em qual loja?
-Quanto custou este aqui?
E qual foi a minha surpresa quando me deparei com um sapato preto chamado de Luis XV, e levei tempos para entender porque aquele sapato tinha aquele nome, pois ela não soube me explicar. Na minha concepção sapato alto era prá ficar alta e fiquei sem entender porque a Chica daquele tamanho iria usar aquele sapato.
- Chica você não vai cair?
- Se você cair e quebrar a perna quem vai costurar?
- Prá onde você vai com este sapato?
- Vou ser a madrinha do casamento da Manoela.
- Quem é Manoela?
- Ela é filha de quem?
- Chica, porque seu nome é Chica?
-Não conheço ninguém com esse nome de Chica!
- Nome mais feio, nunca ouvi falar, pensei!
A minha tarde naquele dia, estava cheia de novidades!
Uma das coisas que chamava a minha atenção na casa da Chica era um baú que ela tinha na sala. Era um baú de madeira e detalhes de couro com arrebites da cor de prata. Aliás, aquele Baú na minha mente era um mistério, um segredo, uma coisa do outro mundo que eu não conseguia entender porque vivia fechado. Sabia que a Chica tinha um cuidado fora do comum com aquele baú misterioso. Um ciúme que me deixava com a pulga atrás da orelha.
Uma vez por semana, religiosamente, limpava com uma flanela embebida de lustra moveis pra ficar pretinho, pretinho. A vida inteira eu quis saber o que tinha dentro daquele baú as vezes imaginava que a Chica tinha um tesouro escondido. Mas não arriscava em perguntar.
Deve ser um segredo da Chica.
E qual foi a minha surpresa, quando um dia a Chica resolveu abrir o Baú na minha presença e quase desmaio, o coração a mil por hora, fiquei vermelha e amarela de emoção ou curiosidade, corri pro baú, estiquei o pescoço, arregalei os olhos e tomei um banho de água gelada ao ver que ali não tinha tesouro nenhum, somente um vestido velho branco de renda com um véu enorme enrolado num saco, que tomava o baú inteirinho.
Um sapato velho dentro de uma caixa que ela chamava de meu sapato Luis XV, e outras coisas de casamento.
Tinha também umas roupinhas de bebê, que na época chamavam de cueiro, com as bordas bordadas de um ponto chamado rôcôcô, e um pedaço de tripa dentro de um frasco que ela dizia ser o umbigo do filho dela.
Fiquei tão decepcionada, de uma tal maneira, que não lembro se chorei. Onde eu colocaria o tesouro que imaginei existir naquele baú? Levei muito tempo para esquecer esta história.
Se não fosse a minha mãe que me prometeu umas palmadas, até hoje eu estaria com isto na cabeça!
Antigamente a maioria dos partos em cidades pequenas eram feitos em casa, por uma profissional chamada "parteira". Lembro muito bem que a minha mãe ganhou todos os seus filhos em casa.
E era costume na época guardar o umbigo do recém nascido em um frasco.
Era bem assim pois eu mesma depois que cresci cansei de ver o meu guardado no guarda roupa da minha mãe dentro de um saquinho de cetim.
E foi justamente isso que a Chica guardava no seu velho bau.
Autor
Maria de Lourdes