ANGÚSTIA AZUL
ANGÚSTIA AZUL
ligas o mundo na tomada da tevê
e sob o peso do sofá a humanidade
fica soterrada no escombro dos conflitos.
socorrer-te por um grito?
mas, moras num edifício onde gentes
de sessenta e quatro apartamentos
cunham distâncias e civilizam as elegâncias.
a varanda te arrasta
e o mar invade tua estrutura líquida
com uma exata obstinação.
os astros te buscam:
teus quadrantes te maestram
pelos destinos surdos
até que uma estrela sinistra
à porta de seu buraco negro
irrecorrivelmente engula
tua noite redonda e farta...
adormeces enfumaçada:
os cigarros do vídeo filtram
tua extra-longa paz.
tua angústia invade a humanidade azul.
o exílio dos veludos dorme em tua fuga
e nos lençóis dos conflitos
descobres o destino dos cronômetros.
teu chinelo de lã jaz esquecido à borda da lareira...