Efuturo: EXCENTRICIDADE

EXCENTRICIDADE

Foi acordado por aí, sem consulta popular:
_ Se o sujeito tem dinheiro, é considerado excêntrico; mas se não tem, é louco mesmo!
E por sermos brasileiros, a excentricidade é para poucos, assim como a riqueza.
Somos, portanto, os bipolares, esquizofrênicos, borderlines e distímicos da vida.
Alguns diagnosticados, enquanto a maioria, perdida pelos cantos desse país, nem sequer imagina pertencer a esse distinto grupo social.
São aqueles seres desconectados da realidade, isolados pelo sistema, vistos como perigosos, instáveis, ausentes.
São aqueles rotulados por não pertencerem, por não seguirem padrões, por verem o mundo de uma forma diferente daquela que todos veem.
São, antes de tudo, periféricos.
Tangenciam os dogmas estabelecidos como verdades absolutas pelos ditos normais e não aceitam a realidade imposta às massas. Simplesmente não se adéquam às regras.
Mas seriam estas pessoas realmente loucas, ou apenas especiais?
Talvez humanizadas demais vivendo em uma sociedade desumana.
Sentem para viver, quando deveriam viver para sentir.
Culpam-se pelos males do mundo, sem forças para combatê-los.
Sofrem com as dores alheias, tentando encontrar sentido para a normalidade.
Desconhecem o egoísmo, fundindo suas identidades com o mundo circundante, vivendo-o plenamente dentro de realidades paralelas.
Realidades, talvez, mais sutis, por vezes esquizofrênicas.
Pois foi acordado também:
_ Só é louco quem rasga dinheiro ou come merda! Com o perdão da palavra...
Pois até onde conta a história:
Os profetas falavam com Deuses, e não eram loucos.
Os gênios musicais recebiam suas sinfonias diretamente da natureza, e não eram loucos.
Grandes líderes derrubaram e ergueram regimes com suas ideologias, sem qualquer traço de loucura, ou sem que permanecesse viva qualquer pessoa capaz de dizer o contrário.
Até porque entre o mundo dos normais e o dos loucos, melhor é viver no segundo.
Lá é permitido existir sem consumir.
Não é necessário escolher um Deus a ser seguido.
Não há assassinatos em massa ideologicamente justificados.
Lá, sentir é existir, e viver é poder questionar.
A adequação não passa de uma palavra sem sentido e as regras sociais são meras obrigações a serem relegadas.
Diferente daqui, onde somos normais:
Submetendo-nos aos poderosos.
Guerreando por diferentes Deuses.
Calando-nos frente às injustiças.
Difamando nossos semelhantes.
Mentindo para nós mesmos.
Criando máscaras para ocultar nossa loucura...