B E S T E I R O L
Rio, 31/08/ 2002.
O final é sempre no fim
E o início acontece no começo
Já o intermediário
Está entre ambos
O óbvio está patente
E o oculto nunca aparece
O alto está sempre em cima
O baixo sempre é inferior
A mentira não fala a verdade
O buraco é fundo ou raso
E não há meio buraco
E há um buraco negro no espaço
Também uma caixa chamada preta
Que está pintada de laranja
E o laranja que fala
E conta o dinheiro na conta
Do banco em uma praça
Que não se passeia
Nem se assenta nele
Existe uma bolsa
Que só anda caindo
E tempo que anda subindo
Acho que ela sobe de elevador
E pula pela janela
Também há ouro negro
Que não faz aliança
Nem se faz cordão
Ou está exposto em vitrines
Há quem globaliza ação
E a ALCA mia quando
Está com fome
Pedindo leite no pires
A multa é para multar
Porém acho que é o nome
Da fábrica que faz dinheiro
Digo casa da moeda da classe
Dos mais honestos cidadãos
E os pardais que andam cantando
E chilreiam por toda parte
Isto é uma arte de se fotografar
O asfalto que cobre a terra
Que gira e gira
Mas não atira nada para longe
E a bala que adoça a boca
E outra bala que cala a boca,
Pois anda perdida no espaço do tempo
E o tempo perdido do ouvido
Que ouve a voz da boca
Que anda prometendo e prometendo
Um mar de coloridas rosas
Mas as rosas têm espinhos
Que picam as mãos
Que às escondidas lançam-se
No orçamento do prédio
Só para inglês ver
E a justiça é cega porque não vê
Juiz dono das mãos
Da lei sem lei
Dos colarinhos brancos
Os anões são do orçamento
E o barco já passou no tempo
E o escândalo escandaliza
E alisa o seixo a água a correr
E eu não sabia do racionamento
E pago os lucros prometidos
E onde está o dinheiro da venda
Das mercadorias de renda
Das toalhas das mesas sem pão?
Sou surdo dos ouvidos
Sou cego dos olhos
Sou mudo da boca
Sou vagabundo nomeado
Sou mais um aposentado
Sou mais um roubado
Pela percentagem torturado
Fiquei entre um e dez amontoado
E a justa e perfeita lei
Esqueceu quantos anos paguei
E muda-se lei na lei
E para mim não há lei
Há uma emenda sem lei
A cola é para colar
A chuva é para molhar
O frio faz tremer
O calor faz suar
A água é para beber
E também serve para lavar
A roupa que está muito suja
O fim tem o final
E há fruta com banda podre
E há parte ainda boa
E explicação que não explica
E gente que na gente aplica
Golpes baixos em todo o tempo
Que perverte o direito no direito
Que faz soluçar o peito
Que palavra joga com jeito
E apresenta-se como perfeito
E que tem a exata solução
Do problema do orçamento
E o PIB é uma mula
Que não se consegue domar
Que teima não obedecer
Nem se deixa montar
O puro-sangue CÂMBIO
Só anda a disparar
No hipódromo ESPECULAR
Montados pelos mocinhos do USA
Que pontos andam a dar
Querem fazer outro AR
GENTE ATINA na válvula de escape
E escreva na linha (bem certo)
Dê o troco com sabedoria
Utilizado a mais perfeita arma
O teu voto secreto.
SEDNAN MOURA