NO MEIO
Quisera que o mundo fosse aquele dos contos de criança.
Lá os finais são felizes para as almas puras.
Lá acreditam na esperança.
Não que as dificuldades encontradas pelo caminho sejam banais.
É mais o contrário, na verdade...
A madrasta é má. A bruxa é traiçoeira.
Há o lobo faminto e o labirinto do inimigo.
Existem pestes e guerras, reis cruéis, faunos e feras.
O caminho é tortuoso e o perigo é constante.
As leis são desumanas e os heróis são mortais.
Se parecem conosco, homem, mulher, filhos e pais.
Enaltecem a dignidade, a perseverança e o amor.
Lutam por justiça, pelos fracos, por suas convicções.
Lutam com louvor...
Assim ouvimos quando crianças.
E acreditamos, seja no todo, talvez só em parte.
Desejamos, no fundo, que seja verdade.
Há o menino e o príncipe, a menina e a donzela.
Há o medo da noite e das suas quimeras.
Mas acima de tudo o final nos pertence.
Os heróis são felizes e o amor prevalece.
Quisera que aqui fosse mais como lá.
Acreditaríamos nos homens e nos seus devaneios.
Cresceríamos em paz...
Sem disputas, sem receios.
O menino construiria seu homem livre dos traumas.
Seria mais do que vale e feliz na jornada.
A menina traria seu lugar na trindade.
Deus ao pai, Deus ao filho, Deus à mãe e à verdade.
A igualdade e a justiça seriam seguidas.
A liberdade jamais seria oprimida.
O pão e o leite sobrariam à mesa.
Todo herói amaria a sua princesa.
Mas a vida não segue por caminhos discretos.
Não convida ao enlace, nem nos diz o que é certo.
Não concede direitos a todos no berço.
Entre lá e acolá, nós ficamos no meio.