Quem és tu
Que na calada da noite
Em sonoro arrastar
Vens em minha porta
Esmola angariar?
Quem és tu
Ave agourenta
Para que assim tão altiva
Permaneças pousada
No peitoral da minha janela.
Espreitando com teus olhos de rapina
Os tristes cômodos da minha casa.
Quem és tu
Que fazes do meu ser
Ancoradouro.
Fincando resoluta,
Tuas garras em minha garganta.
Bicando meus olhos
Sorvendo minha vida?
Quem és tu
Ave maligna
Que usa meus desejos
Remexes meus pertences
Te espelhas em meu espelho
Em meu leito te deitas
Furtando de meus sonhos, o meu sonho?