TRAÇOS DO NOTURNO
TRAÇOS DO NOTURNO
Já é noite adentro... Retornei exausto, trago
no meu peito um composto invulgarmente vago,
uma ansiedade que eu não posso definir...
Acabei de bailar, de beber, de brincar e sorrir...
Tenho as vistas ardendo, porque ainda há pouco
me vi no espelho – tinha o olhar de um louco
e a morbidez de um doente... E pretendi para mim
que vagar pelas noites é precisamente assim:
achamos pela fantasia que estamos contentes,
ninguém sabe o que passo... e quem sabe o que sentes?
O prazer que espuma, é a escuma da bebida
que dá ao corpo o impulso de um exagero de vida;
os sinais, de que a alma excitada é capaz
harmonizam com o embalo doido de um jazz,
buscando a vida, o gozo, - e assim enjoados
temos a impressão de que fomos enganados!
A noite é agora assim como um capuz escuro
sobre o rosto marmóreo e baço do dia
branquejando o espaço... Há uma fugaz poesia
ao redor, na calma... E estou imaginando agora
que tu dormes... E já vendo, além, o romper da aurora,
fico destarte, invejando o sol te despertar...
Premo os olhos... e sinto as pálpebras pesadas
mal enxergo no papel as letras borradas;
a mão que as vai rabiscando, hesita, falseia,
como um bêbado caminhando trôpego sobre a areia...
E nem queira entender por que te escrevo, eu mesmo
Não saberia dizer... eu te escrevo a esmo,
e quando leres, acharás talvez que enlouqueci...
Que seja assim! Fiquei louco por ti!
Entrei... Me sento aqui, a alma decaída e farta,
foi quando encontrei por acaso, uma carta,
ao reler... A tua carta, aquela que eu leio
chorando, ao te amar e a pensar que te odeio...
Releve se te escrevo, esta é uma missiva morta,
eu sei que mais nada existe entre nós – que importa
pois, que eu te escreva ainda?... É um desafogo triste
Já que tudo levaste... e nada mais subsiste...
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É quase de manhã... o dia vem... a madrugada é alta...
Ah! Se tu entendesses como me fazes falta!
Francisco de Assis Silva