COMPUNÇÃO - PESO NA ALMA
COMPUNÇÃO – PESO NA ALMA
Eu corrompi a tua simplicidade,
e manchei a tua castidade
coloquei sobre o teu rosto meigo como o lírio
a negrura do suplício,
- a gravidade de uma cruz...
Ornei depois de trevas e crueldade
a tua existência
- tua vida era cândida como a luz!
Eu pratiquei as obras de um garoto mau
assim, imprudentemente,
turvei com os meus pés a água limpa,
a água clara da corrente...
E da tua ingenuidade de criança
e da tua imagem de boneca
fiz uma figura de mulher idêntica a tantas outras
por quem já passei...
Tua sorte...
Teu fado era uma história branca
que eu desejei ler mas não interpretei
e ao examinar, maculei...
Eu tinha que pensar que a minha prática
jamais frustraria;
que a tua inocência era aleivosia,
e até pressupor
que a expressão de desleixo dos teus negros olhos
ficava bem longe
de ser amor!
E havia de padecer a infinda amargura
de conhecer que por mim deixasse de ser pura,
e por puerilidade e inocência doaste
a tua consciência
a tua alma e teu corpo
para eu manchar...
Antepunha... nem mesmo sei... Preferia
um milhão de vezes que não vivesses;
um milhão de vezes nunca te encontrar...
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Eu desvirtuei a tua mocidade
e profanei a tua candura
e ainda assim, me dás o perdão pelo mal que te dei
e tudo o que te fiz,
- dar-me a chance que eu padeça... pois disso mereço
ser no mundo um eterno infeliz!
E me poupa desta maneira, pois és boa e tão pura
esta atroz humilhação
e a grande amargura
do teu fiel perdão!
(Francisco de Assis Silva)