Efuturo: SHAKESPEARE - A sobrevivência dos sonetos

SHAKESPEARE - A sobrevivência dos sonetos

William Shakespeare é, sem dúvida, o maior nome da literatura em língua inglesa – não apenas por sua vasta e brilhante obra teatral, mas também por seu talento como poeta, reverenciado por outros grandes nomes. Foi influência marcante sobre os poetas românticos. Difundiu e deu certa uniformidade aos “sonnets”, com sua forma peculiar na Inglaterra – formado por três quartetos e um dístico final, que rima separadamente. Também foi um cultor do chamado pentâmetro iâmbico, o verso decassílabo que está para a poesia inglesa como os versos sáfico e heróico estão para o Português.
Nascido em Stratford-on-Avon, Warwickshire, na Inglaterra, em 23 de abril 1564, apesar de data ser ainda incerta, o bardo morreu na mesma cidade e data em 1616. Como poeta, a maestria de Shakespeare está, sem dúvida, no jogo de palavras, nos artifícios para dizer o que queria sem ser explícito. Esse exercício, aliado a uma musicalidade que faz de cada um de seus 154 “sonnets” uma possível canção, permitiu a criação de uma obra coerente e duradoura.
Vale lembrar que, bem à moda da época, Shakespeare escreveu boa parte de seus sonetos como “poesia de ocasião”, muitos deles dedicados ao seu patrono, o Conde de Southampton, e outros à já lendária “dark lady”, uma dama que arrebatara o coração do poeta. O fato é que a primeira edição completa dos “Sonnets”, datada de 1609, quase uma década depois de terem sido escritos, foi feita à revelia do próprio autor. Shakespeare os considerava uma “obra menor” e temia que a própria temática dos poemas lhe causaria constrangimentos – o que de fato ocorreu.
É interessante acompanhar o esforço de poetas brasileiros e portugueses em traduzir os sonetos shakespearianos, já que o Inglês é uma língua muito mais concisa. O tradutor Jorge Wanderley (ed. Civilização Brasileira, 1991) optou por decassílabos, com a métrica seguindo o padrão do soneto em português. Jerônimo de Aquino, em edição recente para a Martin Claret, traz os sonetos em versos alexandrinos (12 sílabas).
Por ser uma infindável fonte de discussões sobre a biografia do autor, pela musicalidade e jogos de palavras, é sempre bom tentar ler os sonetos do bardo no original, com uma ou duas boas traduções ao lado. A edição bilíngüe da Civilização Brasileira (já citada), com várias notas sobre a obra, traduções e a biografia de Shakespeare, foi um grande esforço editorial para dar ao um panorama completo desta obra fundamental na literatura mundial.

(Parte da coletânea "História de Poetas". Publicado no site www.williammendonca.com em 14/12/08.)