RIMBAUD e seus dois momentos
Houve uma época, especialmente no movimento Romântico de meados do século XIX, em que se dizia que o bom poeta morre jovem. Arthur Rimbaud, poeta francês nascido a 20 de outubro de 1854, não morreu jovem ... mas sua poesia sim. Explica-se: em um curto período, compreendido entre sua adolescência e os seus vinte anos, Rimbaud produziu uma das obras poéticas mais originais e intensas da literatura universal, seguindo a trilha simbolista de Baudelaire e sendo o precursor do surrealismo literário. No entanto, em 1874, ao concluir os manuscritos de “Iluminações”, o jovem rebelde, que vivera aventuras intensas, largou a poesia para sempre, dedicando a vida a viagens e, posteriormente ao comércio exterior e atividades ilegais, como o tráfico de armas.
O que teria levado Rimbaud a viver dois momentos tão distintos em sua vida, talvez só ele mesmo pudesse explicar. Para muitos, tudo foi o resultado do fim conturbado de sua relação homossexual com o também poeta Paul Verlaine, 10 anos mais velho do que Rimbaud, que havia patrocinado a viagem do jovem poeta a Paris e a divulgação de seus poemas. Verlaine, que antes era casado, abandonou mulher e filho por essa paixão.
O fato é que a precocidade literária de Arthur Rimbaud, que ainda na escola escrevia versos em latim, assombrando os professores, veio à luz em 1870. No ano seguinte, escreveria uma das obras mais marcantes daquele século, o “Soneto das Vogais”, que influenciou toda uma geração de poetas. Em 1873 concluiu “Uma estação para o inferno”, mas, desestimulado, abandonou a edição com os impressores. O próprio livro “Iluminações” só foi publicado 12 anos após escrito.
Pode-se dizer que o espírito rebelde de Rimbaud na juventude, quando chegou a fugir de casa algumas vezes e a ser preso, além de ter se envolvido com drogas, o acompanhou por quase toda a vida - depois levado a um gosto por viagens e atividades arriscadas. Mas a poesia, que certamente superou o poeta neste caso, foi meteórica, intensa e marcante ... Em 10 de novembro de 1891, quando morreu de câncer em Marseille, Rimbaud talvez fosse apenas a sombra do homem, por trás do brilho de uma obra poética.
(Parte da coletânea "História de Poetas". Publicado no jornal A VOZ DE MARAMBAIA. Publicado no site www.williammendonca.com em 12/09/2008.)