Uma cura inacreditável (T1660)
Estávamos no parque, um dia lindo, um vento leve que balançava as folhas das árvores, apesar de ser verão, não estava quente e nem abafado, estava um frescor daqueles inícios de manhã, e era um belo dia para quebrarmos a nossa rotina de hospitais e médicos, queria que ele se distraísse, pois há muito tempo que ele precisava disso, após os tratamentos incessantes para combater o câncer que o consumia a cada dia.
Joshua era uma criança admirável, perdemos a mãe dele também para esta doença, para mim um sofrimento muito grande e se não fosse ele não sei o que teria acontecido, ele foi a luz de minha vida, tive que me adaptar a uma vida dividida entre ser pai e mãe ao mesmo tempo, e dois anos depois um diagnóstico que fez com que perdesse novamente o chão, e a um ano estamos na correria para vencermos a luta contra a mesma doença.
Havia prometido a ele levá-lo ao parque, e de certa forma eu também precisava, me sentia sufocado, não solitário, pois ele completava a minha vida, e a idas e vindas do hospital, entre as seções de quimioterapia, não me deixavam pensar em mais nada.
Estava olhando fixo para o céu, pensando na mãe dele, de como era uma mulher espetacular, quando fui interrompido em minhas recordações por um chamado eufórico.
__ Papai, papai, olha vem ver o que achei, vem logo.
__ Já vou calma, não tenho mais a sua idade.
__ Olha pai, que coisinha linda.
Bem ali, numa caixinha, um gato miúdinho, bem magrinho, quase não conseguia miar, dava a impressão que suplicava ajuda, era amarelo de olhos na cor mel.
__ Papai, podemos ficar com ele, lembra que o senhor me prometeu um cachorrinho?
__ Mas isto é um gato.
__ E daí, lembra que o senhor sempre disse que às vezes Deus nos coloca algo em nosso caminho por algum motivo, então quem sabe não era para ser um cachorro mas um gato.
Na verdade eu pensei que ele já havia esquecido aquela promessa, e como falar não diante de um argumento tão forte, tão convincente, mas na verdade foi a expressão de seus olhos, quase implorando.
__ Tudo bem, Joshua, mas você sabe que tudo na vida que aparece tem suas consequências, suas implicações, e ele é um ser vivo como você, precisa de atenção e cuidados.
__ Já sei, papai, você vai dizer que tenho que colocar comida, limpar a sujeira dele, se o senhor faz isso por mim, porque eu não faria isso por ele.
Levamos Ashlei para casa, este era o nome dele, e sim era um machinho que aos poucos foi ficando gordinho e sapeca, virou o amigo inseparável de Joshua, onde ele estava Ashlei estava, dormia na cama, ficava junto com ele quando ele brincava no chão, confesso que pensei que com o tempo Joshua ia esquecer de Ashlei, e de repente poderia dá-lo a outra pessoa, mas isso não aconteceu, eles se apegavam cada vez mais, e eu nunca havia imaginado que um gato pudesse ser companheiro, pois sempre escutava que os gatos são independentes, que eles gostam da casa, e aos poucos também fui me apegando ao mais novo membro da família.
Surpreendentemente, Joshua foi mudando, ganhou peso, estava mais alegre e ativo, os médicos estavam estupefatos, pois eles não encontravam explicação, foram contra a permanência de Ashlei em minha casa, achavam que isso o prejudicaria mais, agora já estavam admitindo que de algum modo isso estava fazendo bem a Joshua, até que um dia um último exame comprovou a cura total do câncer, pegando a todos de surpresa, Joshua estava curado, sabem o que isso significou para mim, nem eu saberia descrever. Uma das explicações que aceitamos, era que Joshua havia transferido todas as suas preocupações e tristeza para o amor que sentia por Ashlei, e isso de certa forma o fez esquecer que estava doente e abriu o caminho para sua cura.
Hoje Ashlei ainda está entre nós, um pouco velhinho, mas ainda o mesmo gatinho que entrou em nossas vidas, trazendo alegria e felicidade.
Joshua hoje se forma na Universidade, e talvez não será surpresa para ninguém que ele será um ótimo veterinário.
Alexandre Brussolo (13/11/2012)