O sabor da solidão
A tristeza permeia todo meu espaço. Não só o espaço do apartamento. Também, e principalmente, o meu espaço interior onde minha essência clama pela sua falta: você me preenchia!
O vazio é assombroso!
Tudo ganhou mais amplitude: o quarto agigantou-se e a cama está grande!, muito grande!, e meio muito desolada.
As paredes todas refletem saudades!, de certo pelas lembranças muitas que guardam de nós..., quando éramos nós; o teu perfume doira os meus lençóis, ainda, mesmo depois de tantas noites insones que os lavei com meus prantos; a luz do sol e o brilho leitoso da lua, já não tem o mesmo frescor e me falta o quente do seu corpo e quase me falta ar e alento: aquilo que a nós sustentava, como que sendo alimento do espírito.
Sei que mesmo não me conformando tenho que admitir que a solidão tem o seu gosto amargoso, mas se faz necessário: serve para ostentar a sua falta e o quanto me faz solitário, a sua ausência – ainda que eu tome uma boa dose de bom senso, com gelo, limão e sal, não acredito voltar ao meu alivioso viver!
É um axioma, entretanto. Posso calcular e recalcular e inventar e tentar burlar..., ainda assim é uma premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira: não sou capaz de desafogar minha comoção..., pois que desabrocha comiserações e rancores...
..., pois que tem um desejo preso nas minhas entranhas, que corrói lentamente. É como sendo um ácido, esse meu querer; é como sendo um bicho enjaulado no meu inconsciente. Um tanto muito carecido de libertinagem, para me sentir liberto!, embora não tenha padrão comum como referência: apenas sei!...
E é difícil compreender, quando não se entende bem o que está acontecendo!, por ser vertiginosa, em especial, essa concussão!
Mesmo que eu use metáforas coloridas, tal como palavras de baixo calão ou coisa parecidas, não tenho parametrização para o que sinto. É o que sinto e sem enfeitamento: o amargo sabor da solidão!