Uma dica de Pedro Bial
Assisti ao programa “Que história é essa, Porchat”. Os convidados eram Pedro Bial, Suzana Vieira e Paolla Oliveira. As histórias que contaram já esqueci. Gosto das perguntas feitas no final do programa. O “nunca mais gostaria” da Suzana estava nas mídias no dia seguinte: Participar de uma suruba.
Geralmente também há a pergunta sobre qual livro o convidado está lendo. Depois de falar da sua alegria com os leitores brasileiros voltando a ler Machado de Assis, Bial não falou do livro que está lendo. Preferiu fazer um “jabá” grátis para o livro escrito por um dos seus amigos.
Já no meu caso ficaria muito feliz se os leitores brasileiros também voltassem a ler José de Alencar. Entre o realismo de Machado e o romantismo de Alencar, sempre preferi o segundo. É muito melhor se deliciar com as epopeias de Peri, Ceci e Iracema, do que se travestir de Sherlock Holmes ou Hercule Poirot e tentar desvendar se o Bentinho traiu a Capitu.
A dica do Bial é o livro “A vida Futura” escrito por Sérgio Rodrigues e lançado pela editora Companhia das Letras. Num Brasil de livros custando caro, a versão digital deste custa apenas R$ 19,90. Dentro do meu orçamento. Machado de Assis e José de Alencar estão na nuvem para onde foram os grandes dramaturgos do planeta. Alencar fica revoltado, no politicamente incorreto puto da vida ao saber que uma moça tem a intenção de reescrever seus livros.
Embora haja várias tentativas de persuadi-los contra não tem jeito. Os dois Jota Jota, um de Joaquim e o outro de José, pedem permissão e voltam para a Terra. O objetivo de Alencar é simples. No meio da noite dar um puxão no dedão do pé da moça que quer reescrever seus livros. Jota Jota regressam à Terra de 2020 em plena pandemia. Pessoas usando máscaras.
O livro é narrado em primeira pessoa com Sérgio Rodrigues sendo Machado de Assis escrevendo na sua época. Então uma “cousa” importante. É bom ter um dicionário por perto. É Machado quem assume o protagonismo. Alencar fica longe do seu objetivo e mesmo de ser um mero coadjuvante quando um acidente o faz ficar grudado no pescoço do miliciano que é o namorado da moça que ele veio puxar o dedão do pé.
Enquanto transita por lugares do Rio de Janeiro da sua época, Machado vai escrevendo seu conto. Nesses lugares em 2020, Machado convive com milicianos, assiste uma orgia de lesbianismo, conhece o funk e presencia a morte de uma adolescente por overdose. Se o meu objetivo era uma ótima leitura ele foi alcançado.
O meu “jabá”. Seria ignorância minha fazer comparações, mas a ficção de “A vida futura” me lembrou de “A vagina do Picasso”, o conto que escrevi e que também está postado tanto no “Efuturo” quanto no “Recanto das Letras”. Picasso volta à Terra para buscar os milhões da venda de um dos seus quadros.