Efuturo: O que se finda e o que se principia

O que se finda e o que se principia

Esse bocado de Sertão, é um mundão de caatingas que se acabam onde a vista não chega!
Esse bocado de Sertão, é um perdido de mundo que nem Deus parece saber adonde tá!
Esse bocado de Sertão, é o resguardo de muitos inúmeros viventes que pelejam a vida com muita fé, com muita labuta, com muita perrice, com muito persistir..., e o sol a fazer pirraça por todo o seu zanzar, desde quando, de manhãzinha, alteia no céu.
Quente que só a gota serena, fica lá de riba num esquentado tanto que faz ferver os miolos no quengo, sem dó nem piedade, até quando Deus tem dó e faz ele se acaçapar. É quando o Sertão, cansado desse labutar infindo, vai aos pouco se aquietando para mais um dormitar serenado.
Mais um fenecer do sol!
Mais um dia que se acaba!
Mais um dia que finda por findar-se em luz, de mortiço e esvoaçante luzir.
Mais um dia martirioso e esse bocado de Sertão a expor as suas chagas e os seus estigmas!
E os arroubos de ventos mortos, o pegajoso do suar em bicas, o ruidoso da passarinhada, o alvoroço das garças vaqueiras e dos animais todos, na presteza do aquietar da tarde, na ânsia agastada do caminhar dolente para o revogar do dia.
A boca da noite que se achega, um tanto entronchada, enlevada em negro-de-fumo.
No morrente do dia vem o silêncio que dilacera o grito e ressoa nos seixos e nos lajedos e nos cantos todos em um aliciar dorido, nesse mar de brasas; nesse quente que mais semelha a boca dos infernos.
É o findo! Mais um findo de um dia como outros muitos: uma sudação da gota serena; uma leseira que mais semelha adoecimento..., e o sol lascado de quente, mesmo ao se pôr; mesmo derreado no horizonte a verter-se em sangue por sobre o cocuruto das caatingas.
Qual fênix, garante-se ressurgente das cinzas na manhã seguinte; tal corpo-seco, afiança voltar a zumbizar por esse céu desmedido no dia seguinte..., nesse principiar de sempre..., desse se findar de sempre! ..., amofinando todos, não arreparando a quem. Dilacera, entretanto ceva juras de um caminhar infindo, cobrando expiações, mas com alacridades; com aflições, mas com pujança; com mortificações, mas com festejo e com uma só certeza: dia que vem e mais um dia que só Deus sabe o como será!
Pelo agourado no seu fenecer o sol prenuncia mais quentura quando voltar, dia seguinte: esse peste parece que sabe bem onde jogar seu fogo dos infernos! Têm pena nenhuma desses viventes que vagueiam a ermo nessas caatingas que Deus nem parece saber adonde estão!