VOZES DA ÁFRICA ― Ao poeta Castro Alves
Os olhos que muito viram
a desgraça do negro no tronco
o acinte com a liberdade de um povo
o desplante de arrancar filhos da sua mãe África...
Em vozes pétreas
Foram os tantos quantos
que se calaram perante a dor
que se curvaram a sobeja infâmia
que açoitaram a lomba de um inteiro povo
que se quedaram inertes ao escravismo...
Tem desaparte impar
dos olhos de quem tudo viu e tornou-se voz...
que com palavras plumas e clava de fogo
esbravejou contra tamanha insânia.
Verbos tangidos pelas espumas do tempo
em flutuância que o mar inveja
em náutica que barco nenhuma alcança...
que alçou o voo das garças
que se esfumou em velas
que deu sustento às Vozes d’África
Arroubos de igualdade!
Clamor de liberdade em alto e bom som POÉTICO!
“Deus! ó Deus!”
não ouviste o estrondar dos açoites?
“Há dois mil anos te mandei meu grito,
que embalde desde então corre o infinito...”
“Em qu’estrela tu t’escondes,” Senhor Deus!...
Não deixe em vão os versos castos, de Castro...
Alvos como enclaustra luz
Alves tal como Álvaro:
gênio protetor; filho de guerreiro elfo!
“Basta, Senhor! De teu potente braço
role através dos astros e do espaço
perdão p’ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus”!...