Jogo da vida
O tabuleiro, de muito, está posto!
As pedras se movem!, inexoráveis,
em sincrônico ajuste e pleno desconcerto!
Não tem como se esquivar!
Tudo segue consoante ao fadário!
Tem algo de injusto ou imerecido?!
Explícito e notório que não:
foram vomitados óbvios sinais!
Mas como ir em frente com altivez,
quando se consegue entender,
bem nas vísceras do âmago,
que não mais há como voltar?!
Que não se pode matar o tempo
ou estancar a areia da ampulheta?!
Que não se pode deter o jogo da vida?!
O corpo está alquebrado;
até o quente do sangue
parece ter sido roubado!
De repente tudo arrefeceu
e tudo perdeu o sabor
e se desvirou em falso lembrar:
não mais dá para muito memorar!
Mesmo o gosto das frutas
ou os travos da vida...,
mesmo o som da água da chuva
ou a sensação do toque da grama...
Mesmo uma leve brisa
se desvira em frio alasquiano;
mesmo o mais simples sentir
é um toque letal da ceifa-vidas!
Porém, nada de tumbas e lápides!
Nada de longo e demorado
sono da morte embalsamada!
Nada de retóricas e épico toscanejar!
Melhor arder em fogueiras de sândalo!,
em duro e ensurdecedor silêncio.
Na falta de talos de sândalo...,
madeira qualquer tem a devida serventia!