Efuturo: A XÍCARA E A CANECA

A XÍCARA E A CANECA

A xícara e a caneca, que estavam no centro da mesa, começaram uma discussão. Dizia a xícara:
- Eu tenho asa e quero voar.
- Amiga, deixe de bobagem. Eu também tenho asa e não voo nem desejo.
- Então por que nos fizeram com essa asa?
- Eu não sei, mas penso que essa coisinha que está em nós é para que possam nos pegar para tomar café.
- Eu não acredito em você caneca. Eu tenho asa e quero voar, eu quero voar e pronto.
A discussão continuava firme. Um copo, que estava sobre a pia, cansado daquele falatório gritou:
- Deixa de falar besteira. A caneca tem razão. Vocês não podem voar.
Na verdade essa coisinha que está colada ao lado de cada uma não é asa. Por não ter um nome definido, alguém decidiu chamá-la assim inspirado nas aves. Sabe como se chama isso, minha querida xícara? Catacrese! Catacrese! Ouviu?
Enfatizando a palavra catacrese, o copo começou a rir e a dizer bem alto debochando da pobre xícara:
- A xícara tem catacrese, a xícara tem catacrese. Ela pensa que é asa, ela pensa que é asa. Ah, ah, ah, ah.
Não adiantou a explicação do copo porque a teimosa continuou a dizer:
- Pode rir de mim, pode dizer que eu tenho essa tal de catacrese, eu quero voar e vou voar!
E foi se arrastando até a borda da mesa. Parou. Olhou em volta apreciando o panorama da cozinha. Fez um gesto de quem ia se jogar no ar. A caneca desesperada pedia:
- Não faça isso amiga! Vai virar um monte de caquinhos e irá parar na lata de lixo. Por favor xícara, volte para o meio da mesa. Volte pelo amor de Deus!
Foi nesse momento de grande suspense que a dona da casa entrou na cozinha e olhando para a mesa perguntou:
- Quem deixou a xícara na beirada da mesa?
E a mulher pegou a xícara colocando-a no centro da mesa ao lado da caneca que ainda tremia de susto.
- Viu, teimosa? Por um triz não se esborracha no chão. Nós não temos asa, temos catacrese como disse o copo. E para com essa ideia boba de voar, tá bom?

(Maria Hilda de J. Alão)

06/12/17
(Histórias que contava para o meu neto)