Efuturo: A GIRAFA LINGUARUDA (cordel)

A GIRAFA LINGUARUDA (cordel)

Hoje contarei uma cômica história
Acontecida num tempo de glória
Em que os animais da floresta
Falavam e a vida era uma festa.

É a história de uma girafa faladeira
Que morava ao lado de uma azinheira
Passa horas criticando os outros bichos,
Com outras girafas vivia aos cochichos.

Curiosa, esticando seu pescoção,
Espiava sem nenhuma discrição
A vida da família do chimpanzé,
Das aves que moravam num tripé

Espetado bem no meio do rio.
A girafa tinha o vício doentio
De contar o que via e o que não via
Mesmo sabendo que o fato abalaria

A amizade que entre os bichos existia.
Ria do falar, do andar e da calmaria
Da preguiça com filhote nas costas
E os outros animais faziam apostas:

Um dia a girafa dar-se-á muito mal
Ficará só sem que nenhum animal
Queira a sua companhia ou ser amigo
E isso, na floresta, é um grande perigo.

Numa tarde, quando a sede ela saciava,
À beira da lagoa azul onde costumava
Beber o grande elefante e sua manada.
Mais uma vez soltou a língua a danada

Falando e rindo da comprida tromba.
O elefante disse: De mim ninguém zomba.
A girafa: Foi só uma leve brincadeira
Não se irrite, não grite, não faça zoeira.

Nesse momento uma cobra saiu da lagoa
- Ora, pensei ser uma imensa canoa.
Disse a linguaruda da girafa sem pensar.
Canoa? Essa a cobra não vai aguentar.

Disse o macaquinho para o seu pai.
Quieto! Muita falação confusão atrai.
E a cobra continuou sua caminhada
Dirigindo-se para uma baixada.

A girafa continuou a debochar
Berrando muito e rindo sem parar:
- Lá vai a cobra canoa e rebolosa.
A bicharada ficou em polvorosa

Porque a cobra parou e virou a cabeça
Dizendo: - Ora, girafa não me aborreça,
Cobra não rebola, cobra é muito elegante,
Você é inconveniente, um bicho irritante,

Por isso tem poucos amigos nesta floresta.
O macaco em um galho com a mão na testa
Dizendo: - Não é que a cobra tem razão.
Essa girafa precisa de uma boa lição.

Os bichos, todos reunidos em frente à lagoa,
Chamaram a girafa: Venha. -disse a leoa.
Nossa conversa é nobre e você tem sorte.
As brincadeiras não há bicho que as suporte,

Ninguém fala ou ri da girafa, você sabe.
Se há problemas venha a nós e desabafe.
Poderíamos rir do seu imenso pescoço,
Dos chifres que nas pontas tem um caroço

E de outras coisas que uma girafa tem.
Somos amigos. Vivamos a vida sem
Crítica, sem falação ou deboche,
Saiba que ninguém aqui é fantoche.

E tem mais, a cobra não é rebolosa,
Ela rasteja com graça, é sinuosa,
Tem beleza e muita altivez
Do jeito que o Senhor a fez.

E para encerrar essa nossa reunião,
Saiba que é verdade de todo coração
Queremos que se integre ao nosso grupo
Por isso ofereço-lhe o lugar que ocupo.

A girafa envergonhada e arrependida
Fez um belo discurso de despedida
Pedindo perdão a todos que ofendeu
Nunca mais faria aquilo, ela prometeu.

30/01/18
(Maria Hilda de J. Alão)