As musas
Perguntados, muitos se lembrarão do que fizeram durante a pandemia da Covid-19. Os que fizeram coisas boas se sentirão felizes em contar. O mesmo não se pode dizer daqueles que fizeram coisas ruins.
Isolado em Londres, o escritor Alex Michaelides, por exemplo, escreveu sem segundo romance de suspense. Ele se diz feliz em poder fugir do seu apartamento para o mundo interior da sua mente. “Em parte real, em parte imaginário”. Quem pode duvidar que pandemia tenha criado também alguns psicopatas bem reais? Opinião, “A Paciente Silenciosa” é melhor que “As Musas”.
A psicoterapeuta Mariana é uma mulher atormentada pela morte do namorado. Ela se sente culpada por obrigá-lo a acompanhá-la numa viagem de férias à Grécia. Ele saiu uma manhã para nadar e morreu afogado. Enquanto continua amando um fantasma, Mariana tem outra certeza. Mesmo sem ter provas ela sabe quem é o assassino.
Ao receber uma ligação da sobrinha que está cursando a faculdade, Mariana deixa seus pacientes e vai ao seu encontro. Zoe está assustada. Uma aluna foi encontrada morta. Além da polícia, Mariana começa a sua própria investigação. Das mentes dos personagens segredos e pistas submergem. Citações de tragédias gregas aparecem escritas no verso de cartões postais.
Enquanto por muitas vezes Mariana fica cara a cara com o seu candidato a assassino, para os leitores outros possíveis candidatos vão aparecendo. Entre os capítulos um diário começa a ser revelado. Um trecho desse diário é encontrado dentro de um bichinho de pelúcia. O autor se diz apaixonado pelo assassino que logo se transforma num serial killer. Outras alunas aparecem mortas. Todas fazem parte do grupo conhecido pelo nome de “As Musas”.
Mariana e Zoe recebem seus cartões postais com citações gregas no verso. O significado disso é que elas correm perigo. Mariana prepara sua volta para Londres, mas Zoe agora diz saber o local onde o assassino esconde a faca que usa para cometer os assassinatos. Para a tia não resta outra saída senão seguir a sobrinha.
A arma dos crimes realmente está lá. Só que a partir deste ponto Michaelides é ainda mais genial. Ele traz uma arma mais perigosa para a trama. A arma da lavagem cerebral. Enquanto as peças se encaixam, diante de uma faca o amor de Mariana pelo namorado morto é duramente confrontado pela realidade. Como conta a lenda atribuída a tribo Cherokee, o lobo que alimentamos dentro de nós é implacável.
Mariana é salva fisicamente. Psicologicamente é praticamente impossível que ela possa vir ser salva. Mariana estava errada na sua certeza, mas há uma da qual não devemos nos esquecer. Nascem mais psicopatas reais do que sonha a vã ficção. É fato!