Efuturo: Badalando os sinos que anunciam o fim

Badalando os sinos que anunciam o fim

Sincero. Morto pela sinceridade desnecessária, patológica, aquela que passa a ser rudeza pura, desprovida de charme, o caminho para a perda de popularidade, a transformação em inimigo público número um, tipo desagradável que fala o que é dispensável, que muitos pensam, mas jamais ousam dizer, porque seria suicídio social.
Nojento. Daqueles assassinados pela frescura que irrita, a indisponibilidade para o mínimo de escrúpulo de esconder a enorme e desagradável atitude de não gostar de nada, reclamar e revirar os olhos, atrapalhando a paz do entorno de sua indelicada figura, que não gosta daquilo, odeia isso, não suporta assim, não aceita assado... A imagem da chatice por através de todos os poros.
Egoísta. Absurdamente voltado para os próprios desejos não interessa a quem tenha que destruir e atropelar para garantir as necessidades que só atendem a si mesmo. Trapacear, ludibriar, enganar não têm significados negativos, ao contrário, são qualidades cultivadas friamente, sem sabor, para não ter que dividir com ninguém mais. Nem com aquele ser estranho no espelho.
Cruel. De uma forma dolorosa. Com olhos oblíquos de maldade e sorriso de tubarão, salvando com a mera possibilidade de causar desconforto, ansiedade e estranheza contínua, transformando o ambiente para quem o cerca em terreno hostil. Sem caridade, sem empatia, dono de uma morbidez patética.
Letal. Pronto para afastar do caminho a quem quer que ouse, querendo ou não, ficar entre ele e o objetivo. Mira a todos como alvos descartáveis e não hesita em implodir mentalmente ou explodir descaradamente aos seus competidores. Não tem parcerias, não aceita e nem oferece ajuda. Expõe insensivelmente apenas para saborear o fim do opositor. Vive para degustar a dor. Um solitário capaz de se automutilar para sentir a emoção da morte de uma parte, mesmo que seja a sua.
Esse é o esquadrão de seres viventes que formam a maioria em uma sociedade decadente. Mentirosos que pregam o oposto do que são. Empatia são pílulas de veneno, as quais distribuem entre sorrisos falsos; bondade são balas de alto calibre que carregam as próprias metralhadoras para disseminar a dor escorregando em rios de sangue pegajoso e vermelho, enegrecendo à medida em que esfria.
O dom dessa época é destruição. Que não sobre ninguém, pregam os heróis do horror universal, mortos-vivos nocivos em uma paródia deles mesmos, badalando os sinos que anunciam o fim.


Marcelo Gomes Melo