Efuturo: As muitas pandemias

As muitas pandemias

Após a pandemia causada pela Covid-19 completar um ano temos apenas uma certeza. A ficha dos humanos pelo planeta afora ainda não caiu. Nem é questão de não ver ou não querer ver o que está acontecendo. Trata-se de algo mais grave. De acreditar naqueles que não querem ver.

Enquanto a ficha não cai, o vírus continua no palco dando o seu show. Agora a ciência já sabe que o seu inimigo é um belo exemplar de camaleão. Ele demonstrou uma imensa capacidade de mutação. Suas variantes têm se mostrando mais infecciosas e mortais.

Estudos indicam, o camaleão pode ter uma habilidade ainda mais fatal. A recombinação genética. A notícia boa nisso tudo é que as variantes enfraquecem o vírus. A vacina foi a primeira batalha vencida. Não devemos ter a esperança de que a guerra termine tão cedo com uma comemoração sem máscara. Que a ciência vencerá sim.

Já vemos filósofos e ficcionistas descortinando como será o nosso planeta no pós-pandemia. Na verdade, o planeta continuará o mesmo. A grande incógnita serão os humanos. Dentro da pandemia mascarados e muitas vezes presos, fomos os responsáveis pela criação de inúmeras outras tantas pandemias. Isso lá no futuro terá consequências.

Se o sentimento coletivo de humanidade já era um fio tênue, a exacerbação da nossa individualidade acabou por rompê-lo em definitivo. As crenças que deveriam ser as responsáveis por manter esse fio ileso, foram as que mais força fizeram se agarrando ao cabo de guerra.

Outra pandemia criada pelos humanos trata-se de um abismo. Dele ainda não é possível enxergar o fundo. De um lado o capitalismo maquiado. Do outro lado a pobreza extrema. Junto com a pandemia ocupando os noticiários, as trocas no topo da lista no ranking dos bilionários sempre estavam presentes. Na pandemia o enredo do capitalismo não saiu do script. Para que uns poucos enriquecessem, milhões foram jogados na pobreza.

Falando das causas que fizeram da Covid-19 uma catástrofe, Yuval Noah Harari disse que o vírus foi certeiro ao escolher um tempo em que não há líderes mundiais. Vivemos numa entressafra prolongada de grandes estadistas. Na falta deles, os humanos inventaram os mitos e se trancaram dentro de currais. Temos vários exemplos do que uma pandemia de extremistas é capaz.

Sem que o vírus dê trégua, a ciência teve de enfrentar novas batalhas no front onde os negacionistas permanecem entrincheirados. Na pandemia negacionista o maior campo de batalha está nas redes sociais. Através delas, perigosamente a pandemia tecnológica está remodelando a raça humana para pior. Estamos em movimento retrógrado.