JOGO de ILUSÃO
O Poeta de Meia-Tigela expressa, “Mal-estar // acho que li um poema estragado”. Entre memórias e ficção em diferentes escritas - de amor e sexo, homem e mulher, detalhes e o todo, doce e amargo - em jogos diários de ilusão, que podem transformar as histórias em contos românticos, perpassando emoções que nos fazem sonhar esta realidade tão difícil de entender. Como expressa Jorge Tufic, “meu cotidiano / é um texto / anacrônico: / os nomes de cada / rua, praça / ou avenida, / são nomes de / minha história...”
O diferencial na realidade é que o jogo de ilusão pode ser recurso poderoso com regras a serem respeitadas; limites como estrutura fundamental para a astúcia, o improviso e o sentimento, tendo por propósito o coletivo na vibração da memória e do encontro de culturas em que a chance se movimenta como brincadeira, onde cada um tem que buscar seu próprio caminho. Paciência como repetição e a linguagem como criatividade. João Bandeira retrata, “a montanha insone / agasalhada de névoa / a lagoa sonha”.
O extraordinário no jogo de ilusão é que somos capazes de ir além da imaginação; podemos interferir nas histórias de diversas formas, sem sermos rotulados nas circunstâncias impostas pela realidade. Ao contrário, o jogo de ilusão sofre influência do tempo, no realçar a beleza das palavras com seus efeitos colaterais, para sentirmos a sua diferença como bem estar; tal em Juliano Garcia Pessanha, “Na noite de uma dor que nunca passa, vou até a praça e a velha árvore me olha: ela, fincada no lugar, e eu, o animal arisco-do-lugar-nenhum”.
Temos a chance de reconhecer e conhecer o novo ao nos inspirar ao efeito de encantamento ou espanto, que se adapta a nossa rotina e contribui para que acreditemos no nosso potencial de viver o sonho como um jogo de ilusão. Nas palavras de Jorge Tufic, “Se meu coração é fenício, / minha letra / é o Sol / no talhe das palmeiras”.