INDAGAÇÕES
Como posso pedir perdão porque errei!
Se não houve a intenção de eu pecar.
Como posso sentir a depressiva solidão!
Se a vida sem grilhões anseia o libertar.
Não são as armas que matam! São os homens!
Não são os carros que matam! São os homens!
Não são as drogas que matam! São os homens!
Não são as guerras que matam! São os homens!
Como posso me sentir abandonado!
Se Deus sempre estará ao meu lado.
Como posso seguir insensível e embrutecido!
Se o viver deve ser alegre e enternecido.
São os homens ensandecidos pela ignorância,
em sua nefasta essência beligerante;
à mostrar sempre em constância,
suas imperfeições tão inflamantes!
Como posso desejar mais do que tenho!
Se para a maioria são sepultados seus anseios.
Como posso ser tão ávido e ganancioso!
Se em muitos lares falta o sustento precioso.
Vivemos num mundo de hipocrisias,
em que a falsidade é entronizada!
As virtudes são esquecidas,
pelas vontades contaminadas!
O homem! Sempre o homem!
Com seus pensamentos contraditórios,
se transformando em lobisomem,
para ensanguentar por suas vitórias!
Como posso me sentir envergonhado!
Se o sistema cria em mim o desonrado.
Como posso achar que tudo é imperfeito!
Se boas ações mostram dignidade e respeito.
Como posso me arrepender de meus atos!
Se o que vejo são atitudes em descompasso.
Como posso na ira dar gritos lancinantes!
Se enfermos clamam pela cura tão distante.
Os hipócritas são enaltecidos,
os sinceros são desprezados,
a nossa sociedade não faz sentido,
glorificando os mentirosos desgraçados!
Como posso estar contristado e na apatia!
Se o Sol brilha refulgindo estesia.
Como posso conquistar a amizade!
Se desprezo e não compreendo a individualidade.
Vaidades! Sempre vaidades!
Recônditas em nosso ser,
vamos fingindo em castidade,
logrando a vida sem a conhecer!
Como posso recalcitrar contra o amor!
Se o mundo chora em guerras cruentas de muita dor.
Como posso olvidar da pungente orfandade!
Se a inocência conhece cedo a tétrica realidade.
Envelhecer não é privilégio;
é um castigo dolorido,
falar o contrário é despautério,
é mitigar o carcomido!
Como posso entender o misterioso!
Se a ignorância gera em mim o estertoroso.
Como posso aprender, se eu não quero!
Se um porvir sem vigor é o que espero.
Muitos que são adorados em altares,
foram levados para o inferno!
Sepultaram muitas verdades,
pelo embuste do que fizeram!
Quantos médicos culpados,
que mataram seus pacientes,
com seus laudos adulterados,
vão vivendo bem contentes!
Como posso não pensar no findar da vida!
Se a juventude foi embora e a velhice é infligida.
Como posso não exaltar a inveja e a cobiça!
Se a perniciosa imperfeição está sempre à minha vista.
Como posso não me sentir tão culpado!
Se meus medos interiores não foram derribados.
Quantas mortes consentidas,
por bombas autorizadas!
Nações não arrependidas,
pelas crianças destroçadas!
Como posso arrebatar-me por um novo dia!
Se o meu mundo foi erguido por heresias.
Como posso fomentar lindos anseios!
Se a desilusão foi ancorada e o fim do ciclo é derradeiro.
Quantas riquezas consolidadas,
que enterraram muitos pobres!
A ganância foi edificada,
pela desonra dos mais fortes!
Tantas iniquidades inescrupulosas,
de humanos sem humanidade;
em ações tão ardilosas,
requintadas pela crueldade!
Como posso prover e fortificar-me de vontades!
Se o tempo passa sem descobrirmos o que é a verdade.
Como posso não me tornar insaciável!
Se o especioso consumismo é inevitável.
Se o homem é a imagem de Deus,
alguma coisa está errada,
pois, não é possível que filhos seus,
tenham a perversidade em sua jornada!
Como posso extinguir minhas inerentes paixões!
Se sou uma pobre alma repleta de digressões!
Como posso não desaprender com a televisão!
Se manipulam nossas mentes e hipnotizam nossa visão.
Nascemos com a pureza,
como anjos celestiais!
O tempo passa e tornamo-nos a torpeza,
corroendo a consciência, agindo como irracionais!
Como posso não me impactar com a violência!
Se a morte foi banalizada pela impiedade em anuência.
Como posso não me sentir um aprendiz!
Se meu saber é limitado e retifico tudo o que refiz.
Como posso me indignar diante de tanta corrupção!
Se nos calamos para que o Brasil saia da contramão!
Como posso ressurtir os gritos dos injustiçados!
Se nossa gente faz descaso pelos seus filhos ameaçados.
Que República de horrores,
que veio a golpe em redenção!
O cidadão sentindo as dores,
desconsolados e em aflição!
Como posso aquiescer com uma nação em desigualdade!
Se és pátria amada, idolatrada em teu seio ó liberdade.
Como podem macular e prostituir o Congresso Nacional!
Se nossos bosques têm mais vida, agora jaz seu ideal.
Que educação promíscua é esta?
Que formam despreparados!
Implementando metodologia funesta,
para um futuro de desempregados!
Como negligenciar nossas fronteiras, deixando-as ao léu!
Se contrabando é opróbrio, a droga tem sabor de fel.
Como uma minoria abastada pode ter tanto poder!
Se a maioria de brasileiros têm a servidão para acolher.
A violência recrudescendo,
pela desigualdade coreografada;
negros e pobres desfalecendo,
em prisões desestruturadas!
Como posso silenciar os descalabros que acontecem!
Se faço parte dessa gente, com seus sonhos que se arrefecem.
Como posso propagar nossa cultura magnificente!
Se as escolas consolidadas, encenam aprendizado inconsistente.
Pagamos tantos impostos,
que a maioria são desviados!
Nossos conceitos até estão dispostos,
a ver nosso Brasil ser desonrado!
Como posso deixar de falar da burocracia do poder Judiciário!
Se recessos mostram o retrógrado, sem contar o décimo quarto salário.
Como posso ser omisso de falar do nepotismo no serviço público!
Se seus altos e privilegiados salários revelam a indecência pelo absurdo.
Como posso estar deitado eternamente em berço esplêndido!
Se os três poderes desta nação, dela se servem de modo endêmico.
Como posso não lamentar os filhos em ingratidão!
Se seus pais envelheceram e o desamor é a retribuição.
Políticos de ambições dissolutas,
que só mancharam nosso Brasil;
hoje vivem às nossas custas,
ficando ricos pelo ardil!
Como posso não pensar no tempo que passa apressado!
Se o efêmero traz a sina de que o fim já foi lançado.
Como posso ser pedante, soberbo e insipiente!
Se a simplicidade é a sabedoria erigindo o condizente.
Não sabemos de quase nada,
se até somos frutos do acaso,
a sabedoria deve ser abraçada,
pois, viver é um enigma a curto prazo!
Como posso não apregoar a vitória por mais um dia!
Se muitos, não vivenciarão amanhã, a aurora que refulgia.
Como posso não poder possuir o que posso!
Se viver são artimanhas para escamotear o que não é nosso.
Como um sonho intenso, um raio vívido, se transforma em favelas!
Se dos filhos deste solo, não são donos da sua própria terra.
Como podes ser gigante pela própria natureza!
Se o povo desta nação não conhece sua grandeza.
Como posso!
Como posso!
Como posso!