O fim de Arecibo
Após quase seis décadas e com uma tragédia se anunciando, um dos ícones da astronomia mundial chegará ao fim. Com a possibilidade de desabar, há uma corrida contra o tempo para que o telescópio do Observatório de Arecibo em Porto Rico seja demolido. Uma tentativa de repará-lo colocaria a vida dos trabalhadores em risco.
Além dos danos na sua estrutura causados por eventos climáticos durante todos esses anos, dois cabos de sustentação foram rompidos. Se o terceiro cabo romper, um gigante de 900 toneladas desabará sobre o seu disco refletor do telescópio de 300 metros.
O maior vilão responsável pelo fim de Arecibo foi o furacão Isaías que passou por Porto Rico em agosto de 2020. A imagens dos estragos causados no observatório são impressionantes. A demolição terá que ser rápida. Um objetivo permanece. Salvar os edifícios que ficam abaixo das torres.
Arecibo foi tão importante para a astronomia que a notícia do seu fim foi manchete em todas as mídias mundiais. Construído em 1963 para estudar a ionosfera terrestre, foi usado pelo projeto “SETI@home”, que buscava vida extraterrestre no Universo.
Arecibo e Carl Sagan estavam juntos nessa saga. Sagan foi um dos criadores da mensagem que os humanos enviaram para viajar pelo Universo na esperança que outras civilizações as encontrem ou captem.
A viagem contando da nossa existência acontece de duas maneiras. Estão em placas de ouro colocadas a bordo das naves espaciais Pioneer 10 e Pioneer 11, lançadas na década de 1970. Atualmente essas naves espaciais estão deixando os limites no nosso Sistema Solar para trás. Perderam o contato com a Terra no início do século 21.
Arecibo enviou a mesma mensagem com 1.679 dígitos por ondas de rádio. O destino da mensagem foi o aglomerado globular M13 distante 25 mil anos-luz do nosso planeta. A mensagem tem apenas 210 bytes e foi transmitida em três minutos. Aglomerados globulares orbitando perto do centro da Via-Láctea se deslocam. Então quando a mensagem chegar, possivelmente o destino não estará mais lá para recebê-la.
Com a ajuda da banda de pós-punk “Joy Division” que estampou a imagem na capa do seu disco Unknown Pleasures em 1979, permanece icônico o sinal de rádio com 80 pulsos recebido pelo Radiotelescópio de Arecibo. Num primeiro momento, comemorou-se como um sinal extraterrestre. Depois corretamente identificou-se que o sinal vinha da estrela de nêutrons “PSR B1919+21”.
Em 2016, Arecibo foi superado como o maior radiotelescópio do mundo pelo “Fast” localizado na China. Desabando ou demolido, décadas de estudos sobre o Universo estarão disponíveis pelo legado deixado por Arecibo.