Efuturo: TEMPO DE DESCONFORTO

TEMPO DE DESCONFORTO

O desejo de comprar e adquirir o livro vem da curiosidade ou do hábito da leitura. É o momento único quando nos descobrimos em convívio com a obra. Este momento se perde quando percebemos o estranhamento do livreiro em relação à obra e ao autor, o que gera condição de desconforto. Precisamos nos esforçar para compreender tal atitude; então, no perguntamos onde e como o livro permaneceu na livraria, se na prateleira entre os autores conhecidos ou no depósito dentro de uma caixa no depósito? Pior, sem “mais” explicações nos é nos devolvido dentro de uma sacola – fosse compra de supermercado -.
Universo em que sentimos as palavras se despedaçando aos poucos com o efeito do nosso desconforto. Fruto da incultura? Interesses comerciais? o que pode restringir os talentos? Nas palavras de Leonardo Munk, “... um furioso cenário de desespero e caos, semelhante às mais obscuras imagens do inconsciente...”.
Não é a toa que nos indignamos por não existir momentos para a reflexão, a leitura como espaço entre compromissos e afazeres. Seria benefício para a mente e desafio para os dias atuais. Marcelo Coelho expressa que “... Há livros que não são propriamente livros, mas “livros eventos”, com autores no papel de convidados...”, que “... não dispõem de tempo para novas leituras, nem para rever o que já pensaram...”.
Enfim, os livros não são comprados, “mofam” nas prateleiras e nas caixas. Para o escritor é “comum” ficar se remoendo e até com insônia pela condição de desconforto; termina por ser tragado em terrível círculo vicioso, pela permanência do livro na estante. Isto assombra, porque nossa mente é capaz de se esterilizar e não criar até que a sensação de desconforto passe. Caso contrário, pensamos demais sobre a questão, o que nos causa desconforto versus ansiedade e depressão. Sem mencionar a frustração por nem ser exposto na vitrine da livraria e o medo de não ser lido se incorporar na nossa rotina e, assim, perdermos o lado criativo.
Criamos em defesa o receio de entregar a obra aos livreiros e, em frações de segundos, obtermos o não. O que nos permite um jogo de luz e sombra capaz de fazer diferença em tempos de criação.
Sentimo-nos marcados ao redefinir o desconforto e tentar seguir com as palavras em movimento, o que, para Marcelo Coelho, “No filme O príncipe, de Ugo Giorgetti, um personagem oportunista comemorava o fato de a cultura ter virado bom negócio no país... o segredo... era “promover eventos...”.
É relevante expor preferências frente à nossa vontade na literatura que disfarçada, em oposição, ainda nos inspira o gesto. Contudo, a vontade não é detida nesta vida borbulhante, com tantas obras e autores. Por vezes, se apresenta conturbada, mas, com irresistível desejo de ler e escrever, para oferecer algo novo, capaz de transformar a mesmice, ao alcançarmos o leitor e aquietarmos a condição de desconforto.
Livros é a melhor estratégia para seguir com o plano de não viver na condição de desconforto, comparadas ao tempo de nos sentir bem por produzir literatura como cultura. Leonardo Munk diz, “... em uma sociedade cujas maiores preocupações residiam na ostentação e na aparência elementos característicos... e assimulados pela burguesia ascendente... far-se-ia o desenvolvimento das artes com o intuito de promover a diversão de uma elite econômica ansiosa por esquecer os descontentamentos do cotidiano...”.