O que chamam de paz e não passa de escravidão
Se está à procura de paz, prepare-se para a guerra. A batalha invisível que lhe oprime silenciosamente através de pequenas obrigações sem as quais estará excluído de determinados benefícios, ou ajuda institucional. Determinadas ordens que você cumpre como se fossem obrigatórias seguindo o fluxo, porque a maioria o faz sem questionar, e quem questiona acaba sofrendo as consequências, julgado sem provas, humilhado e diminuído como ser humano, ao ponto de ser atacado pelos seus próprios pares, que não chegam a perceber que estão abraçando parte importante deles mesmos ao punir um dos seus em nome de argumentações vãs, esfarrapadas e ilusórias.
A paz não pode ser garantida com um lado dominante e outro dominado; isso não é paz, é escravidão. A maioria cumpre as ordens de uma minoria privilegiada em troca de migalhas mal distribuídas que os atiçam a brigar entre eles, dividindo-os ainda mais em nichos assustados e facilmente controlados.
Preparar-se para a guerra é demonstrar força de opinião, argumentação clara e apoio da maioria, fazendo-os pensar duas vezes antes de dominar pelo poder de ferir, ameaçar e até mesmo matar.
Impedir a alienação constante da maioria, posicionando-se com pés firmes no chão e músculos tensos, olhares atentos, argumentos afiados, fará com que a paz torne-se mais plausível através da equivalência de forças. É o medo que atua como mediador nessas questões, e o temor mútuo obriga a pensar muitas vezes antes de burlar uma regra ou abocanhar uma fatia maior, aumentando o espaço de domínio, e com isso o comando das decisões mais sangrentas.
Todas as decisões de guerra acontecem quando uma das partes se julga poderosa o suficiente para impor suas regras, incluir tacitamente os seus desejos, e oprimir cada vez mais com intenção de tirar o espaço, as forças e a resistência do oponente, reduzindo-o a algo desprezível e plenamente destrutível, sem contestação, em nome de algo que nunca reconhecerão: escravatura.
O ideal é saber como equilibrar tais forças, e o armamento crucial para isso é o conhecimento, o poder de argumentar e compreender os meandros do que leva ao comando total de tudo o que os cerca, incluindo vidas humanas, descartáveis ao modo simples como enxergam as coisas.
Marcelo Gomes Melo