Ver é diferente de chegar
Sempre há uma comemoração quando os astrônomos conseguem ver algo desconhecido no Universo. Houve festa com os primeiros exoplanetas descobertos. A graça estava nas manchetes da mídia. Algumas usavam a palavra “perto”. Outras optavam pelo “apenas” ao referir-se à distância em anos-luz que estavam de nós. Dava a impressão de ser ali na esquina.
Recentemente conseguiu-se observar um buraco negro. Sabia-se que existiam e o que são. Possivelmente cada galáxia contenha um desses devoradores vorazes. A nossa Via-Láctea tem um. Descobriu-se um planeta muito parecido com o nosso vagando sem estar em qualquer sistema solar. Viu-se a galáxia mais distante já encontrada. Ela formou-se quando o Universo tinha apenas 10% da idade atual.
Num dos episódios da série “Cosmos: Mundos Possíveis”, o apresentador Neil deGrasse Tyson dá um passo do último segundo do mês de dezembro do calendário cósmico criado por Carl Sagan para a ficção de um ano novo. Os eventos que acontecerão no Sistema Solar, na Terra e com os humanos nos próximos milênios e bilhões de anos. Alguns já estão acontecendo. Outros com certeza acontecerão, e não faltam as utopias.
Nos primeiros segundos do mês de janeiro, o planeta foi completamente alterado. O geólogo Alejandro Cearreta diz que os humanos foram os responsáveis por uma mudança de era. Estaríamos agora vivendo no Antropoceno. Daqui cinco bilhões de anos o Sol engolirá metade dos planetas do seu sistema. Em poucos milênios os humanos estarão viajando de planeta em planeta entre as estrelas. Uma bela utopia.
Ver é diferente de chegar. Utopia é diferente de ir. Lançadas na década de setenta, só agora as naves Voyager estão deixando o Sistema Solar para trás. Emprestando o slogan de Jornada nas Estrelas, estão “audaciosamente indo onde nenhum objeto humano jamais esteve. “Uma região cheia de atividade caótica e espumosa”.
Foi em 2014 que o Sol deu um exemplo de velocidade que deixaria qualquer astronauta com inveja quando enviou um “furacão de vento solar viajando a 800 km por segundo. Fomos protegidos pelo campo magnético quando o furacão atingiu a Terra após dois dias. Em quatorze meses atingiu o planeta Netuno. O furacão de vento solar precisou de apenas dois anos para atingir as Voyager. Elas viajaram quatro décadas para chegarem no ponto em que foram alcançadas pelo furacão de vento solar.
Yuval Noah Harari escreveu em “Sapiens — Uma Breve História da Humanidade”, que a evolução humana até atingir o status de dominante foi baseada em ficção e narrativas. Continua a ser. Nesse contexto a utopia de viajar pelas estrelas é aceitável. Entretanto, em algum dia do calendário cósmico dos eventos futuros teremos de encarar a realidade. Não evoluímos para viver fora deste planeta. Nem passeando entre as estrelas será possível impedir a contagem regressiva que terminará com à extinção dos humanos.