Efuturo: Quando é que realmente se envelhece?

Quando é que realmente se envelhece?

Quando é que se envelhece? É num piscar de olhos que acontece. E jamais se percebe, jamais. O processo é tão natural que você só consegue notar se ficar um bom período de tempo sem ver alguém, e as mudanças que houver na outra pessoa, obrigatoriamente o fará olhar para si mesmo, só aí confrontando o fatal, inevitável envelhecimento.
Uma situação recorrente é o confronto de gerações. A anterior é desprezada como ultrapassada e a posterior é julgada como inútil. Os valores mudam, os gostos mudam, o modo de se comunicar muda, os padrões são contrariados, o senso comum é contestado, a vida vira de ponta cabeça para antigos, atuais e futuros.
Quando realmente se envelhece? Quando continua a curtir as músicas de trinta anos, usar gírias desconhecidas e insistir em roupas fora de moída pode ser um caminho. O ser humano se destaca pela capacidade de se adaptar às mudanças gigantescas a que são acometidos: temperatura, alimentação, geografia, comunidades... Mesmo assim não consegue deter o envelhecimento, a necessidade de afastar-se para dar lugar às novas gerações, e tentar fazer isso sem desanimar no último terço da vida, abandonando novos projetos e atuações que continuem fazer valer a pena prosseguir, sem observar com mal humor o que está acontecendo, chateando com o excesso de nostalgia, a rabugice tolerada com condescendência irritante...
É desse jeito que se envelhece. Os movimentos se enrijecem, o cérebro funciona com base na experiência, sem velocidade, nada de precipitação, isso é bom. A falta que a impulsividade faz, entretanto!
E os cabelos embranquecem, quando não desaparecem, os medos aumentam, a fragilidade fica evidente... Paciência é um dom, para evitar o excesso de recriminação causado pela ausência de juventude.
Não adianta clichês de que a juventude está no coração. O coração é um órgão, e como tal tende a falhar com o desgaste, os sofrimentos, a força despendida para ousar, para viver e superar as apostas feitas, realizar os próprios objetivos, se deliciar com as conquistas e novos desejos que surgem na sequência.
Não é ruim reconhecer, ficar jovem para sempre seria muito chato, porque a história é cíclica, se repete ad infinitum. Como flores que nascem, brotam, alcançam o seu auge e murcham, seres humanos, como parte da existência de uma infinidade de seres, talvez sejam os únicos indomáveis, que se recusam a seguir o caminho imutável e inevitável definido por Deus para todos.

Marcelo Gomes Melo