Entendendo o jogo do amor
O jogo do amor é jogado em ambiente estranho, por isso o cuidado inicial, o excesso de perfume, os passos contidos, a procura por aprender sobre o outro, apreender as sensações, ler nas entrelinhas, demonstrar qualidades... Aí é que pega. Mostrar as qualidades. Não é como fazer um currículo para conquistar uma vaga de emprego, e qualidades são efêmeras, às vezes servem, às vezes não.
O certo mesmo é conseguir demonstrar qualidades sem ocultar defeitos, e não esconder os defeitos pode se tornar uma qualidade, caso sejam passíveis de aceitação. Se não o forem, o jogo do amor se encerra automaticamente.
O jogo do amor é exótico e envolve fantasia, inclui peças novas em um quebra-cabeças difícil de enxergar aqui do chão. Por ser imenso, exige a virtude de flutuar para ter a visão completa, facilitando o prosseguimento da batalha de paixões, os obstáculos sombrios e silenciosos, feitos para que os jogadores tropecem.
O tropeço precisa ser superado. Ser içado por uma mão forte quando pendurado por um fio de uma altura considerável; um empurrão para o lado desviando de uma flecha, um abraço apertado evitando uma armadilha...
Não basta entender o jogo do amor, é preciso criar estratégias para suportá-lo e adquirir armamento particular para movimentar as peças corretamente e ganhar prêmios, revertidos em felicidade, prazer e, em caso de bônus, caminho aberto para a chegada.
Ao cruzá-la, então, o direito de aceitar o amor abre-se como um lindo domingo de sol e céu de brigadeiro, e os vencedores, enfim, podem ostentar o prêmio maravilhoso de exercer todas as ações físicas e espirituais em nome do amor.
Marcelo Gomes Melo