É mortal quem persegue o amor imortal
Era um revólver apontado para o céu. Sem balas. De frente para um amor à prova de balas. Isso diz muito sobre uma vida inteira que acontece em um piscar de olhos. A valentia serve para conter um exército, mas não vale nada contra as borboletas no estômago.
As situações surgem como chuva de verão, assustadoras, estrondosas e rápidas. O furor pode destruir muito, jamais tudo. E na maioria das vezes o susto é maior do que o resultado.
As constelações se unem invisivelmente, são caminhos iluminados sob uma noite sem fim. Aos apaixonados resta segui-las a esmo, comprando todas as fichas de perigos evidentes, ou bem escondidos, o tempero apimentado beira ao medo leve, de olhar para baixo a uma altura considerável.
Não morram por amor antes do amanhecer! Permitam-se todos os arroubos os quais se negam durante toda uma vida insípida! Pratiquem a arte de abandonar a matéria encontrando tranquilidade para a alma através do desvario do corpo. Urge que sejam sensíveis e insensatos, que espremam o caldo da felicidade até o fim, alimentando aquilo que lhe pertence e ninguém está apto a definir em palavras, nem você, o que realmente o é.
As antenas carregam pensamentos em ondas, vigiados por quem sabe que informação é poder, entretanto não a usam em momento algum, apenas sugerem levemente, e causam transtornos enormes a qualquer consciência, por menores que sejam.
Há uma luta entre o céu e a Terra, o teto e a cama, e tudo o que eles veem é a eles mesmos, fisgados pela emoção, barata ou verdadeira, momentânea ou imune aos surtos das coisas que podem dar errado.
Uma arma sem balas apontada para o céu pode ferir a um corpo à prova de balas, o coração blindado e o olhar gelado dos que pensam longe, à frente, e planejam com cuidado todos os passos, evitando, durante o processo se deixar contaminar por qualquer apreço, se apegar a quem quer que seja, porque a disputa por qualquer tipo de poder é solitária, e deixa rastros de sangue no meio das rosas, através do caminho.
É mortal quem persegue o amor imortal, portanto é uma causa perdida desde o começo, e todos os seres dispostos a tentar ocultar esse fato deles mesmos, apagam e sepultam sob camadas e camadas de desculpas, para continuar pelo tempo que lhes for destinado, conquistando algumas vitórias antes que pereçam, aparentemente sem culpas, sem lamentações. Caminham e se atiram do precipício sem hesitação.
Os que buscam conhecimento perecem igualmente, só que sem os bônus de erros sensuais, acordos ilícitos de paixão, sofrimento gratuito e noites sem dormir por razões essenciais. A vida desses é inútil, inerte.
Marcelo Gomes Melo