A ASSOMBRAÇÃO DO GAÚCHO.
A Assombração do Gaúcho
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O gaúcho, apesar de valente é também extremamente supersticioso,
acredita em assombrações, como boi tatá, mula sem cabeça,
bicho papão e outros bichos mais e que nas noites enluaradas
se recolhe cedo para não topar pelas estradas com o famigerado
lobisomem, ainda, se arrepia todo quando por um motivo
ou outro entra em discussão com um desafeto e no falatório
este alguém lhe diz que vai lançar-lhe uma maldição.
Mas o gaúcho por natureza é astuto e destemido e não se recusa,
“dentro de sua razão”, a entrar em uma necessária peleia para defender
seus direitos e o de seus irmãos rio-grandenses tem como marca
registrada um espírito aventureiro vencendo pela coragem todas as superstições e se for preciso se atraca a unha com qualquer tipo de lobisomem, principalmente com estes, que hoje em dia estão
assombrando este glorioso país, em suas investidas funestas,
não precisam esperar por noites enluaradas, pois sem qualquer
represália, aos poucos e em beneficio próprio, sem o menor pudor
diuturnamente estão acabando com o que era bom e o pior,
as finanças desta nação.
O gaúcho ouvindo os comentários no velho rádio de galpão
e mais tarde sentado na sala da casa principal de sua vivenda,
assiste pela televisão as imagens do que esta ocorrendo atualmente,
o escárnio que esta sendo usado por aqueles homens engravatados,
que mantém o poder de comando, boquiaberto e sem querer acreditar
ainda assiste descabidas explicações, ele sabe, é na falsidade do sorriso
que se nota como estão fazendo troça da judiada população,
se apresentam sorridentes em frente as câmeras e com mil desculpas
esfarrapadas juram que só querem o bem da pátria e fazem o que fazem porque se acham amparados por uma tal de constituição que foi pensada
e elaborada pelos mesmos e adequada para um dia os proteger.
O Gaúcho aborrecido com tudo isto se afasta e vai dar uma volta
pelo arvoredo, sente a aragem que lhe renova o animo, passa a mão
pelos revoltos cabelos como quisesse que esta brisa fresca viesse
refrescar seus pensamentos desviando-os das ladainhas e das barbarias
que houve e vê diariamente na tela, vê escancarada roubalheiras, fortunas escorrerem para os bolsos de meia dúzia, que são depositadas em lugares
distantes que dizem eles, nem mesmo sabiam, mas o que é certo,
eles não o podem usufruir, permanecendo lá até que são descobertos
e enquadrados em forma da lei, então os ajuda o que foi elaborado
por eles, a tal constituição que mantém em seus parágrafos válvulas
de escape justamente para protegê-los e eles por terem este respaldo
se acham maiores que o “rei” e com cara preparada chamam a imprensa
e começam em risos a explicar por A e mais B que não fizeram nada,isto
é coisa da oposição, eles se acham rigidamente dentro da própria lei
e se existe em paraíso fiscais dinheiro em seu nome, não é dele,
deve sim ter sido alguém da oposição que lá o colocou para politicamente
prejudicá-lo! O gaúcho sente na pele o que está acontecendo, por que enquanto ocorrem estas bandalheiras ele está desumanamente sendo
afetado, isto falando em questões monetárias, ele está trabalhando
em dobro só para encobrir rombos de outros e quando precisa recorrer
aos bancos para melhorar, por falta do dinheiro que não circula, pois está muito longe parado, não consegue o mínimo financiamento para manter
seu gado no campo nem para começar na lavoura sua plantação
e isto sim é na realidade do dia a dia a sua verdadeira assombração.
O gaúcho volta a entrar no galpão, procura no bolso da surrada bombacha,
já desgastada pelas horas de serviço, retira uma caixa de fósforos
e acende o velho candeeiro, antigo companheiro abastecido a óleo
que não o deixa andar as cegas quando procura as tralhas em seu
galpão, olha em volta, procurando nas paredes enegrecidas pelo
picumã a anos desprendida pela queima do óleo, avista em um canto pendurado seu facão feito de mola de trem, fazendo um par está um
velho bacamarte de um tiro só, que era carregado pela boca e socado
com uma vareta, o que várias vezes quase o levou a breca perante
o ataque inimigo, pois não havia tempo de repor a bala e assim a facão
no corpo a corpo tinha que se atracar, recordando, aproxima-se do canto
e passa a mão em uma lança Farrapa, onde pela metade esta presa uma bandeira meio rascada do Rio Grande, o gaúcho cerra os olhos e fica
a matutar, pena que já não posso usar estes bons equipamentos
que foram heroicos durante dez anos de Revolução Farroupilha
onde toda a gauchada se alvorotou, sem aquentar os desmando
imperiais montou a cavalo, facão na mão, adaga na cintura e bacamarte pendurado no ombro, se enrolou na bandeira rio-grandense e de pala
e bombacha saiu em busca de justiça, lutando por seus direitos
e por uma melhor igualdade.
Pensou em seu cavalo, amigo inseparável e ouviu lá da cocheira
um relincho, como se o valoroso trovão das coxilhas, justo naquele
momento estivesse também a recordar.
Sentado em um banco, a mão afagando o queixo se põem a pensar,
estes desmando que por hora está acontecendo no Brasil não se pode suportar de boca calada, tenho ainda meus apetrecho e meu cavalo
é só uns guascas competente arregimentar e partir rumo a Brasília
para uma conversação, digamos,“social”. Levanta e sai pela porta,
mas para a meio caminho e se põem novamente a pensar:
os tempos são outros, “eles” nem vão me deixar chegar lá,
existem armas poderosas e de longo alcance e por certo
não terão trabalho nenhum em me lançarem alguma bomba
por cima e me explodirem com cavalo e tudo, não sobrando
um rasgo da bombacha para contar a história. É, estas coisas
teleguiadas de hoje em dia será um estorvo e sendo assim
acho que será bem bom mais uns tempos me sossegar
e esperar para ver o que acontecerá afinal muitos dos
corruptos já estão sendo presos, além do mais a bandeira
hasteada no mastro político deste meu valoroso estado
também anda meio desbotada. Por agora vou me recolher
para descansar, mas vou sim amanhã fazer contato para
deixar a gauchada em alerta, como se diz, um gaúcho
peleando indignado vale por dez, ou mais, e para este
pretendido acho que uns vinte e cinco bastam, mas preciso
ter cuidado para não colocar a carreta na frente dos bois,
portando por enquanto vamos deixar estes lobisomens
a cargo das energias da Polícia Federal.
Yy.....yY
Elio Moreira Torres RS
192 Livros Publicado.