Efuturo: OSSOS DO OFÍCIO

OSSOS DO OFÍCIO

“O significado da expressão ossos do ofício remete para a realização de uma tarefa incômoda ou que implica um esforço extra, na sua execução.” Difícil compreender, mas, todos fazem parte das obrigações do dia a dia, como diziam os antigos, são os ossos do ofício. Segundo Agostinho Both, “A natureza humana busca a diferença, a liberdade e a vantagem”.
Em cada profissão há sempre algum desalinho que, por vezes, toleramos, eis que são os ossos do ofício. É de se esperar que, mais do que respeitar o trabalho, conviver com ele é incorporar as dificuldades e os incômodos, como fonte de receptividade e diversidade. Agostinho Both salienta que “O mérito... estava em suas próprias mãos e não na sorte que o Senhor pudesse conferir”. No entanto, reconheço como é difícil contribuir, em grande parte, com a (in)tolerância que tem se transformado em ato de discordância, quando no trabalho não somos espontâneos e as tarefas se multiplicam.
De onde vem a vontade de não se queixar sobre os ossos do ofício? Agostinho diz que “... sobre muitas coisas se sonha e, geralmente, o sonho perde para a realidade”.
Acredito que o entusiasmo vem da criatividade e da responsabilidade que temos pelo trabalho. Com dedicação permitimo-nos fazê-lo, conscientes de que nos entregamos para mostrar o nosso talento e contribuir para fortalecer a nossa identidade. Both alerta que “... tudo o que está fora do homem, está também dentro dele... a natureza e sua paisagem instruem a alma humana”.
Falo em ossos do ofício, logo penso no poeta que, por sua vez, trilha caminho próprio em que atua e assume posições-chave, pois, tem condições de conquistar o seu espaço ao compilar as ideias; então, encontro em Vera Lúcia de Oliveira, no livro Entre as Junturas dos Ossos, poemas que retratam, “o que está entre as junturas dos ossos é o que temos de mais profundo no corpo vivo...” – “fui aos poucos / tirando as cascas / do osso / derrubando muralhas / de artelhos...”. Ela evidencia que, na hora de trabalhar, realiza a ação expressando ideias, no sentido de provar que o esforço engrandece a todos: que se a poesia não é imprescindível, é desejada.
Somos moldados pelas referências e, quando do nosso interesse, as incorporamos. Ainda em Agostinho Both, “o nosso pensamento está livre para representar um novo tempo e para que possamos fazê-lo, a exemplo do que se passa em nosso espírito. Que nossos braços tenham a força para cumprir nossas palavras”.
Ao acreditar em nosso talento, consideramos os ossos do ofício e mostramos que somos bons no que fazemos. O truque é desafiar as diferentes interpretações, certas ou erradas e não perder a noção do quê e como fazer o trabalho.