Um Natal diferente
Duvido que alguém com opções escolhesse passar o Natal internado num hospital. Eu não tive escolha. Após uma queda que no momento pareceu não ser grave, acabou complicando várias coisas. Ainda estou numa cadeira de rodas. Na noite do dia 24 trocamos o “Noite Feliz” gargalhando contando piadas. A Mamãe Noel da Casa da Amizade apareceu distribuindo Panetones no dia 25.
Certamente não será sobre os meus infortúnios que esta crônica falará. Possivelmente também serei criticado por quem em algum momento precisou de atendimento hospitalar e saiu cuspindo marimbondos com o tempo de espera e o tipo de atendimento. Eu entendo. Colocar-se na situação de “paciente” traz consigo varáveis infinitas de paciência.
Esta crônica começou a tomar forma ainda no hospital. Gostaria muito de saber o custo que o hospital teve comigo na semana que passei internado. Essa é uma conta que a maioria não se dá conta de fazer. Podem acreditar que fazê-la é assustador. A nossa visão de hospital muda complemente. Para quem nunca precisou estar deitado num leito hospitalar então...
Para saber o estágio da saúde no Brasil, com a noção desse custo sugiro traçar um paralelo entre a despesa que dei ao hospital, e quanto deste valor o SUS deve ressarcir. Não acredito que o ressarcimento atinja mais de 30%. Se bancar o restante 70% torna inviável manter um hospital funcionando, ainda devemos incluir como variável na equação, o tempo que esse ressarcimento demora.
Também não pode ficar fora dessa equação, o valor humano que faz um hospital funcionar. Quanto mais nos colocamos e entendemos a nossa situação de paciente, melhor será a relação com quem está ali para cuidar de nós. Nunca se esquecendo de que nós e eles somos humanos com nossas virtudes, defeitos e variações de humor.
Mesmo sem precisar, a todo momento eu estava rodeado de coisas boas. Elas iam de um simples sorriso, aos cuidados essenciais. Criamos vínculos de confiança e intimidade. É certo que nenhum paciente gostaria de estar ali totalmente dependente daqueles profissionais na sua maioria abnegados. Não acredito que quem não ama a profissão possa se sentir feliz num ambiente desses. Cedo ou tarde, ele dará o fora.
O tratamento que recebi de todos esses profissionais merece um destaque especial. Seria um dos meus maiores pecados citar nomes. Também seria uma tremenda hipocrisia minha dizer que não existia uma lista de escolhidos e preferidos. Em todos os lugares essas listas existem. Não seria diferente num hospital.
Internado no hospital conheci pessoas interessantes. Esforcei-me ao máximo para também parecer minimamente interessante. Espero ter conseguido.