Efuturo: JOGO da MEMÓRIA (I)

JOGO da MEMÓRIA (I)

Para a memória não existem regras, apenas a lembrança dos bons e maus momentos, que nos tocam como valor sentimental, ponto positivo válido pela experiência. Joaquim Cardozo coloca, “... Pois tudo que é vivido é apenas sabido / E tudo que é sabido é apenas sonhado //... viver é saber, sentir, sonhar...”
O jogo da memória traduz o aprendizado e a lembrança, estimulando reflexões do passado, refletidas no presente, na diversidade das expressões do coração. Jaime Labastida demonstra, “... Do mesmo manancial que o sonho, a memória? Este sonho é mais real... / Merece ser mais real, mais existente...”
Lembro-me da menina de oito anos participando em seu primeiro leilão de artes, à noite, realizando o seu desejo ao dar o lance vencedor na gravura A Boneca, de Gustavo Rosa. Naquela noite, forças mágicas e afins fizeram a sua vida entrar no mundo das artes plásticas. Ela, decidida ao interferir, levantando a sua mãozinha, como desafio. Foi belo, assisti-la! O leiloeiro confirmou o seu lance, a sua escolha, dando as três marteladas e gritando: vendido para aquela menina!
Percebi que a sua iniciativa e coragem alcançou a combinação de fatores que a levaram a se determinar por aquela obra específica, como sua verdadeira revelação. Ela, com sua curiosidade, encarou o público presente; escancarou com o seu gesto o entendimento das coisas d’alma e conseguiu o desejado. Com estilo, provou que o gosto pela arte não tem idade, chegando com ritmo ao resultado esperado, por haver acreditado em sua capacidade de se expressar e se expor. Nas palavras de Pedro Du Bois, “Na parede a obra / arte na profusão das ideias / e técnica do artista / atesta o passado / iluminando o contexto”.
O jogo da memória é a doçura que aproxima o passado e o presente através da arte, obrigando-me a ver detalhes na configuração da passagem da menina. Aquela menina cresceu, casou e constituiu família, mas, mantém-se em contato e harmonia com a arte. Repassou para as suas duas filhas o sentimento de admiração pelas obras de arte. Tanto que, cada uma, tem sua gravura de Gustavo Rosa (entre outras obras) e a sensação, tal como a mãe, pelo prazer de ver a vida através das artes.
A memória se faz presente quando a referência evoca a lembrança; aqui, minha referência foi evocada num consultório médico, pelo calendário contendo a reprodução de obras do Gustavo Rosa, sobre a mesa de atendimento do doutor. Revivi, após trinta anos, que suas obras permanecem conosco, alegrando os dias e nos dando nas cores e formas as lembranças da vida, como jogo de memória. Pedro Du Bois completa, “O barulho ritmado / do martelo empurra o quadro // Lembramos a alegria da criança / na compra da obra de arte...”