Uma estranha China
Como esperado, com pompa e demonstração de poderio militar e bélico em primeiro de outubro a China comemorou os setenta anos do atual regime. Um país comandado por um único partido comunista e uma economia capitalista. Acho que nem em sonhos isso passou pela cabeça de Mao Tsé-tung em 1949.
A China é um país de coisas estranhas. Dias antes, um artigo do jornal americano “The Washington Post” dizia que a China tentava manipular o clima para ter céu azul no dia da festa nacional. Não se tratava de um evento climatológico natural, mas algo produzido pelos próprios chineses. A poluição que deixam suas cidades esfumaçadas.
Desde 20 de agosto caminhões estavam proibidos de rodar em Pequim. Todas as obras da região central da cidade foram paradas no início de setembro. Num raio de 480 km as empresas industriais “voluntariamente” pararam a produção. Atividades mineradores foram suspensas. Fogos de artifícios estavam proibidos em Pequim. Num fórum China-África em 2018, o céu azul foi desfrutado ao custo de US$ 60 bilhões.
Nem só de poluição vivem os chineses. Nas décadas após 1970, o socialismo chinês assombrou o mundo com sua economia chegando a crescer 10% ao ano. Num período de quarenta anos, a participação chinesa no PIB mundial praticamente dobrou dez vezes. Em 1980 era de 2,32%. Chegará a 19,72% no próximo ano. Esse crescimento assustador tirou 800 milhões de pessoas da pobreza.
Mesmo com as imagens suntuosas do desfile sendo distribuídas para o mundo ver, não é o poder bélico dos chineses que assusta as democracias mundiais. O que assusta é o poder econômico. A China pôs abaixo o consenso ocidental de que o único caminho para a prosperidade é a democracia e o liberalismo.
Então cabe um alerta. Não devemos nos deixar iludir apenas por esta China capitalista de estado. Os chineses ainda vivem num regime de ditadura. Não há qualquer hipótese de se permitir opositores. Têm sorte aqueles que são presos sem serem julgados. A maioria desaparece. E você nem precisa ser um opositor de fato para desaparecer ou ser mandado para “campos de treinamento” (lavagem cerebral). Basta que o regime te veja como um. Tudo na China é controlado pelo estado. Até a quantidade de filhos.
Há muitas teorias sobre o futuro da China no século 21. Além de expandir sua presença militar marítima, uma de suas ambições é criar um projeto de ordem mundial chinesa. Nas mesas de apostas se joga o jogo de que a China jamais será um Estados Unidos.
Desde pequenos os chineses aprendem os conceitos de que só a união e o patriotismo podem gerar prosperidade. Em contrapartida não se ensina sobre a Bíblia ou Deus. Mesmo assim, transformar o seu país numa China deve ser o sonho de muitos governantes aventureiros. Ter o poder de fazer qualquer opositor desaparecer.