VIAGENS PELO MUNDO
Nossa vida é uma viagem ,
uma expedição de circum-navegação
em uma caravela,
ela passará por muitos oceanos
e tentará provar a esfericidade de algo.
Nossa morte será a chegada a um porto espanhol.
Mas que estranhos animais
nos surgem pelo caminho:
o equilíbrio de nossa fragilidade;
a noção de que o medo se locomove;
o alcance de nossos disfarces
com seus dentes pontiagudos.
Nossa vida descobre esses bichos
e mal os classifica,
pois capturamos um exemplar
para prosseguirmos a viagem,
também uma expedição
para achar estranhas plantas:
o amor ativo que boia em águas salobras
e quando aportamos nas primeiras ilhas
a beleza sempre esteve enterrada ali
em todos os lugares,
junto a indefinição do divino
com sua raiz profunda
e o que é passado
agora exposto à luz.
Essa expedição de circum-navegação
(poderia ser de uma ilha, um continente,
de todo planeta)
é da nossa vida.
A morte é a chegada em um porto espanhol,
embora antes prossigamos vendo estranhos seres:
erros de família
(Um dos irmãos pode viajar ao Egito,
o outro mal paga um ônibus aqui no Brasil.
Talvez seu porto Espanhol
seja essa penúria).
(Fernão de Magalhães morreu depois de um oceano Pacífico).
Mas prosseguimos e em determinado momento,
surgem outros erros,
culpas, incertezas
que latem como cachorros
e deixam seus corpos pregados
em nossos cascos.
Esses animais tortos não podiam ser levados
e surgem então
recalques de família
(irmão que alega,
se fosse o contrário,
saberia tratar o mais rico;
era desejo do falecido pai,
conseguir a união dos filhos
e qualquer espécime seria adequada).
Em nossa viagem de circum-navegação
vemos poucas verdadeiras uniões.
São seres artrópodes, invertebrados,
possuem exoesqueletos rígidos
e vários pares de apêndices
ainda que mal articulados.
Estamos chegando ao Porto espanhol
ou talvez a outra ilha da viagem
(o porto espanhol será uma surpresa)
e encontramos novos animais
ou variantes mal visíveis:
pragas, vermes, sanguessugas
e as enormes bactérias:
homens deitados em macas
tentando nadar contra a maré,
enquanto vemos daqui
estranhos arbustos:
nossos pecados
agora fincados nas docas.
Do livro: As sondas amam