Efuturo: HOJE

HOJE

Por definição, o hoje se instaura quando estamos demasiadamente dispostos a não nos espantar com a realidade, mas, tentar compreendê-la melhor do que ontem. Essa vivência forma estranhos sentidos, tornando misterioso o hoje; para Ana Maria Lopes, “... Ontem //... A memória dorme cedo / assegurando ao segredo / fixar seu limite // Meu corpo insiste / em seu calar honesto / Daqui / não vejo o mar...”.
Perguntamo-nos, para onde foram as cores do dia que se perderam no espaço; a flor da hora atravessada no tempo ao transbordar o dia exato? Não progredimos ao proibir palavras, como se vivêssemos de única palavra. Ana Maria Lopes expressa, “... São pontas de um tempo / que não reconhece futuro / e o passado é apenas / a geometria do escuro...”
Como argumentar que a vida é irredutível quando se propaga pelos campos no viver somente o hoje? Essa misteriosa questão faz com que interpretemos o presente em suas conotações e extrapolações. O que nos pode explicar por que nos referimos à crítica na necessidade para pensarmos o tempo como linguagem imediata, que nos manipula no esperar o dia seguinte.
É maneira para conversar conosco mesmos no refletirmos sobre a passagem do dia, analisando e revendo nosso posicionamento frente à decisão tomada, nos arquitetando e fortalecendo para o amanhã. Como em Ana Maria Lopes, “Ando longamente pelos caminhos da memória / São tortuosos e sempre perco / Há muitas trilhas e desvãos e devaneios. // Perdi o rumo ou foi a lembrança / que fechou o cerco?”
Confesso ser processo de conversão com a repetição dos ritmos do tempo, onde nos fiamos apenas nas apresentações, com traço marcando o dia de hoje. Maneira, sem dúvida, de haver constância e relutância no reiniciar o que vimos fazer hoje: aprender a lidar com as críticas como dimensão das nossas reflexões; fórmulas e definições antes das preocupações que emergem das palavras na concepção para viver o hoje. Espantados, inertes, indiferentes ou assustados por lamentarmos o dia que não nos fortalece, ao contrário, faz com que pareçamos frágeis para sobreviver ao dia de hoje no mundo real.Como retrata Ana Maria Lopes, “Trapézio sem rede / corda bamba que treme / viver sem medo / amar sem sede // nunca mais”.