É JUSTO? (8) - A fome e o papel
ZILDO GALLO
Garimpar imagens na imensidão da internet e observá-las pode ser um bom exercício para compreender o mundo nos dias de hoje. Muitas vezes as imagens falam por si mesmas, como nas fotografias de Sebastião Salgado, mas elas podem (servem) para ilustrar crônicas e poemas como é o caso do meu poema: A fome e o papel. Uma imagem pode ajudar na compreensão de textos, pode? Ela pode falar mais que os textos. À imagem e ao poema!
A fome e o papel
A barriga me dói n’alma
E nem sei se alma ainda tenho,
Pois já nem tenho forças
Para caçar minha comida
Na grande selva entijolada
E cada vez mais vazia,
Deserta de vida real e de frutos.
O arco, a flecha e a lança pontuda
E as matas dos meus ancestrais
Já não me servem, nem existem.
Preciso agora de folhas,
Muitas folhas estampadas,
Feitas da madeira da floresta,
Aquilo que dizem ser dinheiro.
Se não tenho dessas folhas
Não consigo chegar
Às montanhas das guloseimas
Que apodrecem a espera
Dessas coloridas figurinhas,
Que, num abracadabra,
Transformam-se em saborosa comida.