Memorias de Mandubé
Se existe alguém nesse mundo que pra mim é um exemplo, esse ser era o Mandubé.
Não cheguei a conhece-lo, mas as histórias que ouço ao seu respeito é de tirar o chapéu.
Dizem que não existe dois seres iguais e eu concordo plenamente. Um pode ser melhor ou menor que outro, mas nunca nunca iguais.
E a quem possa interessar o Mandubé era o cachorro do avô do meu marido.
Nascido e criado na roça o mandubé era pau pra toda obra!
Vigiava as galinhas, as vacas, as ovelhas, os porcos, e ai de quem tentasse uma fuga que ele numa carreira só trazia todas de volta pra casa.
O mandubé acordava as 5 da manhã. Lavava o rosto num balde de água, dava uma sacudida para secar e corria para o pé do fogão a espera do seu cuscuz com leite com pedaços de nata.
E eu estou aqui contando esse caso porque eu mesma tenho um cachorro que pra comer alguma coisa primeiramente tenho que pesquisar se pode ou não, enquanto o mandubé comia de um tudo e nunca adoeceu.
Era tutu de feijão com farinha, mugunzá com arroz e farofa, buchada, e tudo quanto era fruta que lhe desse.
Até manga o mandubé chupava.
E só teve um dia na vida que o mandubé arriou os quatro pneus. Foi quando um dia se apaixonou pela linda cadela de Dona Meizinha. Mulher besta metida a rica, que tinha uma linda cachorrinha toda branquinha e mandubé foi logo se engraçar com a princesa.
Foi amor a primeira vista. Mas, besta do jeito que aquela sirigaita era, nunca iria permitir esse namoro.
Numa tardezinha, chega ela toda esbaforida e com cara de briga para gritar aos quatros cantos daquele lugar chamado de muriçoca para dizer que desse um jeito em mandubé que estava se engraçando pros lados de sua princesa.
Que ela não tinha cachorro com pedigree e tudo, vacinada e cheirosa a talco para se amancebar com um cachorro sem beira e nem eira, um pé rapado, um cachorro pé duro.
Pois aqui entre nós o Mandubé era um pura raça de cachorro vira lata.
E o resto dessa história depois eu conto.