DIA A DIA
Você sobreviveu aquele mundo,
tu percebes,
porque ele mesmo não era aceitável.
Você só permanece no hoje,
naquilo que admiras,
coisas muito antigas
em uma condição de carne.
Há dois anos tudo era diferente,
há um ano não desmanchava no ar,
porque o desmanche
ocorre somente agora,
repare na incisão quase imediata
no senil e carcomido
mundo que passa.
E desarranjas o clima da foto do teu casamento,
Cortas o teu terno de linho,
Desarranjas o teu olhar atento
e hoje percebes
que tudo se torna muito velho.
Velho é a folha amarela do jornal,
a notícia do filme no cinema
também amarelecida
por olhos que a estragam.
Você sobrevive
e repara que somente tu
guarda os pecados da tua vida
e que pecados prosperam.
Tu podes até perguntar:
E diante da Virgem Maria?
Na gravura ela olha para o lados
e não esconde o riso acolhedor
que todos sempre sentiram.
Ora, é impressão tua;
ela não ri,
é uma gravura
de olhar sério
para aqueles que são como tu,
dependentes do tempo presente.