Efuturo: A SAGA DO SOM ESTÉREO

A SAGA DO SOM ESTÉREO

Numa noite dessas tive um sonho. Não é uma introdução ao texto. O sonho realmente existiu. O professor de português entrava na sala mandando os alunos arrancarem uma folha do caderno. Essa era a senha. Já sabíamos que vinha redação. O tema para aquele dia seria o rádio.

Não me lembro nada do que escrevi. Acordei antes da aula terminar. Estava na metade da redação. Entretanto, não esqueci da ideia que usaria para desenvolver meu texto. A minha saga para sintonizar as primeiras emissoras de frequência modulada. As FMs com som estéreo.

Acredito que para quem mora nas grandes cidades a saga foi muito menor. Bastava comprar um rádio ou aparelho de som novo. Emissoras com a nova frequência se proliferam rapidamente. Para os habitantes de cidades menores e do interior, o meu caso, era preciso ainda ter uma antena de FM.

Comprar o meu primeiro aparelho de som com FM não me causou tanto êxtase quanto sintonizar a primeira emissora de FM. Com a ajuda de uma antena presa no topo de um cano medindo oito metros de altura, a primeira emissora que sintonizei foi a Caiobá de Curitiba. Estava tocando “The Winner Takes it All” do grupo sueco ABBA.

Não pensem que os meus problemas terminaram. Raramente o som era perfeito devido à distância. Se era uma felicidade ver o marcador de interferência estabilizado em pelo menos 40%, a felicidade se multiplicava por cem quando o sinal verdinho do estéreo finalmente se acendia. Um dia, o estéreo já foi o som perseguido.

Então íamos fazendo descobertas. Nas manhãs de inverno, e melhor ainda nas de primavera, o sinal verdinho do estéreo só começava a piscar e apagar por volta das dez horas da manhã. Nas noites de primavera parecia que as rádios tocavam ao lado de casa.

Eram épocas de se deixar uma fita cassete virgem sempre preparada no gravador. Não sabíamos quando a música desejada tocaria. Quem nunca comprou uma fita virgem da marca “Basf”. Uma “Scotch”. Quem nunca xingou o locutor que falou antes da música gravando terminar, ou antes de começar a gravar com um “belo” palavrão!

À medida que as potências das rádios aumentaram, o êxtase pela luzinha do estéreo acesa diminuiu. Logo, cidades como Blumenau também já tinha sua FM. O único trabalho era virar a antena da direção do Paraná para Santa Catarina.

Hoje sintonizamos praticamente qualquer FM on-line na internet. Algumas de minha cidade como a “Vitrine FM” também. Pelo gosto musical, enquanto escrevo este texto ouço a “Ouro Verde” de Curitiba, sem saudades da minha antena de oito metros de altura. O receio que algum temporal a derrubasse e tivesse de comprar uma nova.