A IMAGINAÇÃO É SUFICIENTE PARA DESCREVER O MUNDO?
“Imaginário //... penso em palavras / chego a ti / penso em liberdade / chego a ti / penso em versos / chego a nós...” (Carmen Presotto)
O mundo da imaginação se revela como arte literária ao oferecer ao leitor bons momentos de prazer, conhecimento e boa dose de diversão e emoção que, com técnicas multiplicadas em recursos expressivos, especulam como seria o mundo. Em linguagem mágica há número significativo de motivos que o leitor, orgulhosamente, conecta com o seu tempo e também com os interesses desse tempo. Nas palavras de Gabriel Garcia Marquez, “acho que a imaginação é apenas um instrumento de elaboração da realidade. Mas a fonte de criação, afinal das contas, é sempre a realidade”.
No mundo da imaginação, encontro no tempo palavras onde os valores sociais e individuais se movimentam conforme o escritor sente a vida ao registrar a passagem do tempo, marcado pelo seu estilo e percepção apurada sobre o mundo. Para Proust, na visão de Umberto Eco, “o estilo torna-se uma espécie de inteligência transformada, incorporada na matéria...”. Luiz Coronel demonstra, “...faço um barco de papel / dos cantares que componho. / Me vou com as águas da chuva, / levando meus versos / por mares e por granjas. / No verso, quero que sintas / o sumo bom das laranjas”.
Num mundo de contrastes é significativo rememorar e reavivar a imaginação com talento e arte para descrever o mundo, que ao ser revelado pela palavra transforma magicamente o cotidiano em histórias. Certamente, essas histórias contribuem para que possamos participar do mundo criativo de luzes e sombras, como revela Dinair Pires, “Se “eu” não fosse “eu” / e noutro reino vivesse / gostaria de ser um passarinho // com plumagem leve / voar sem limites / tendo o céu por moldura, / o chão como apoio / e o ninho... para repouso”; Sérgio de Castro Pinto apresenta, no livro Zôo Imaginário, “a zebra / é a edição / extra // de um cavalo / que virou / notícia”.
No mundo da imaginação há medidas que começam pela ilusão de estarmos diante de um novo mundo, o que pode nos roubar o espaço e a alegria no pensar e, consequentemente, de nos inspirar, pois, como em Nilto Maciel, “Minha imaginação é tão prodigiosa, que consigo escrever mentalmente um romance a cada noite. Entretanto, não tenho capacidade de copiar, de transpor para o papel nem a milésima parte do que imagino”.
Por essa razão, revelo que a imaginação provoca modificações no escritor/leitor, suficientes para descrever uma nova realidade a partir do mundo em que vivemos.