OS ARCANOS MAIORES DO TARÔ EM POEMAS: A RODA DA FORTUNA (23 de junho de 2016)
A RODA DA FORTUNA
É um vir-a-ser intangível,
é o instante seguinte a nos esperar,
é o rodar da roca das Moiras
que, seguindo o girar do tempo,
o rodopiar azul da Terra,
vai fiando a linha da nossa vida.
São os movimentos de Gaia,
nossa mãe,
que gera a vida
em ciclos de nascimento e morte,
de morte e vida,
de partidas e retornos.
São processos invisíveis,
inacessíveis,
à nossa risível e humana condição,
envolta em névoa,
que limita e delimita
a visão do caminho à frente.
Movimentos imperceptíveis
que nos lançam
na supremacia
da surpresa permanente do viver,
Do eterno vir-a-ser.
Para entender melhor A RODA DA FORTUNA, transcrevo aqui um poema escrito em 2001, onde falo da insegurança do porvir, da necessidade fóbica que temos de controlar o futuro e da mediocridade da vida sem as surpresas.
DESEJO E DESTINO
Desejar ter o minuto seguinte
preso entre as mãos
desejar a paralisia do tempo
para reorganizar o tabuleiro
do xadrez das nossas vidas
desejando ardentemente
a não existência do outro jogador
que move as suas peças
fora do nosso controle
desejar a construção de via reta
para o nosso caminhar
e perder a aventura da surpresa
e desejar
ainda
ser feliz.
Zildo Gallo - Piracicaba, SP, 24 de outubro de 2001
GIRAMUNDO (4 de maio de 2018)
Feito roca das remotas moiras,
O mundo gira, fiando a trama
Do meu destino incerto,
Mas com começo, meio e fim.
Sigo reto por tortuosas linhas
E a roca roda muito e mais veloz,
Produzindo hipnóticas vertigens
E projetando sombras disformes.
As moiras sempre fiam e eu me fio
Em esperanças sempre recorrentes
De que elas me poupem algum dia,
Da minha (ir)real e humana condição.