XADREZ DA VIDA: desejo e destino
PRIMEIRO MOVIMENTO
Desejar ter os minutos seguintes
Seguros entre os dedos
Desejar a paralisia do tempo
Para (re)organizar o tabuleiro
Do jogo da vida
Desejando ardentemente
A não existência do outro jogador
Do outro lado da mesa
Que move as suas peças
De modo imprevisível
Imperceptível às razões do meu querer
Longe do meu desejado controle.
SEGUNDO MOVIMENTO
Desejar a construção de via reta
E plana
Para o meu (in)desejado
E cambaio caminhar
E perder as aventuras das surpresas
Dos encontros e desencontros
Das idas e vindas
Dos altos e baixos
Das vitórias e derrotas
E desejar ainda
Depois de tudo...
Tudo... tudo...
Ser feliz
De felicidade plena.
TERCEIRO MOVIMENTO
Só mesmo um medo (in)comum
Para me lançar neste íntimo e feroz
Embate de fera encurralada
De fera ferida
E para me impedir de ver a luz
Do meu sábio mestre-adversário
No outro lado do tabuleiro existencial
Aberto bem na minha frente
Com cada peça no seu lugar
E de enxergar a beleza do xadrez jogado
Sabiamente bem jogado
Sincronicamente bem jogado.
QUARTO MOVIMENTO
O xadrez da vida bem jogado
Necessita de muita calma
Nenhuma pressa
E muita fé
Devagar e sempre...
Tudo no seu tempo...
Todas as peças postas em movimento
Cada uma do seu jeito
Cada uma na sua hora
Para o triunfo ou sacrifício
Num estranho e muitas vezes
Incompreendido balé.
QUINTO MOVIMENTO
Olho firme no mestre-adversário
Sem medo de jogar (viver)
Pronto para o lance final e...
XEQUE-MATE!
Zildo Gallo
Piracicaba, SP, 24 de outubro de 2001
Campinas, 08 de maio de 2017