VERDE QUE TE QUERO VERDE - Crônica escrita em 2014
Não sei com certeza em que momento da minha infância, o alviverde imponente surgiu no meu coração. Também não sei quando o meu sangue perdeu a coloração vermelha e ficou verde. Só sei que um dia acordei e torcia pelo Palmeiras. Um amor incondicional.
Geralmente as crianças escolhem um time de futebol para torcer por influência de alguém. Pais, irmãos, avôs ou amigos. Esse não foi o meu caso. Numa época em que meus amigos queriam torcer pelo time de Pelé, eu quebrei a regra. Essa é uma das coisas que eu não mudaria se fosse convidado a começar tudo de novo.
E não adiantaria eu ficar aqui falando das glórias ou do passado do meu time. Do campeão do século XX. Dos títulos conquistados. Das quedas para a segunda divisão. Das saborosas vitórias. Das amargas derrotas. Tudo isto é História. Muitos já escreveram. E hoje com um clic do mouse podemos saber de tudo no Google.
Com o Palmeiras comemorando 100 anos de História, eu estou completando meio século de paixão. Quero falar como um simples torcedor muito distante de São Paulo. De como acompanhei o meu Palmeiras desde os meados dos anos sessenta.
Minhas primeiras lembranças são daquele time campeão de 1967. Que tinha o bicampeão mundial Djalma Santos, Dudu, Ademir da Guia, Servilio, César e Tupãzinho pela ponta esquerda. Uau! Ponta esquerda. Definitivamente estou ficando velho mesmo. E nada como ser um velho e orgulhoso “porco”. Os palestrinos me entenderão.
Lembranças do sótão da casa. Do rádio de pilha na cabeceira da cama. De não poder aumentar o volume para comemorar um gol, porque acordaria meus pais no quarto abaixo. Dos domingos de clássicos, quando “abriam-se as cortinas e começava o espetáculo”. “Uma beleza de gol”, na voz do inesquecível e inigualável Fiori Gigliotti.
Lembranças do medo de ouvir um “não”, quando precisava pedir uma graninha para comprar a revista “Placar”, que trazia o pôster do time campeão. Ou a tabela do campeonato que iria começar. Do uso de duas canetas esferográficas. Uma verde e outra vermelha, para pintar os pontos ganhos e perdidos. Logicamente os ganhos eram verdes.
Com o advento da televisão os rádios de pilha aos poucos foram aposentados Mesmo assim em 2013, quando resolvi não comprar o “pay per view” da série B, ainda ouvi alguns jogos nas rádios online da internet. O jeito de transmitir futebol pouco mudou. O que mudou mesmo foi o futebol. A torcida. O amor à camisa é coisa do passado.
Tudo fica ainda melhor, sabendo que o sangue da nossa “cara metade” também é verde. Que o seu coração bate no ritmo “Palestra Itália”. Assim podemos dividir as alegrias de ser campeão, e as frustrações das derrotas. E melhor. Além dos nossos corações verdes, eles batem de forma incondicional um pelo outro. Tum, tum, tum...