SHAKESPEARE E AS BURRICES - Crônica escrita em 2014
É provável que todos os seres humanos do planeta, em algum momento da vida falaram burrices. Alguns com eu, também escrevemos. As burrices infantis devem ser perdoadas. As que causam danos devem ser corrigidas.
As piores burrices são aquelas ditas quando deveríamos permanecer de boca fechada. E geralmente são nessas que as pessoas acreditam. No fim, algumas acabam prevalecendo como verdades absolutas.
Acabo de ler algumas burrices ditas sobre Shakespeare. O título de uma reportagem dizia que “Shakespeare faz 450 anos e nós, humanos, temos muito a ver com isso” Uau! Eu não acenderia a vela mais barata no bolo do seu aniversário. Imaginem então, acreditar que tenho algo a ver com ele.
O crítico literário, sempre eles, Harold Bloom, defende a tese de que somos o que somos hoje graças a Shakespeare e suas obras. Harold Bloom não falou apenas uma burrice. Ele literalmente congelou-se no século XVI. E como outros tantos críticos se acham os tais. Mesmo falando burrices. “Eis a questão”.
E tem outro. O professor de literatura João Cesar de Castro Rocha, afirma que Shakespeare transformou-se numa espécie de língua universal. Melhor seria ter mordido a língua e permanecer calado. Se Shakespeare for uma linguagem universal, eu prefiro ser mudo.
Vamos fazer uma viagem singular no tempo, E transportar Shakespeare para o século XXI. De repente, Willian Shakespeare percorrendo o mundo, a procura de editores para suas obras. Não tenho a menor dúvida, depois que ele saísse pela porta, os rascunhos seriam atirados no lixo. E se fosse publicado, o que diria Harold Bloom nas críticas?
O que pode pesar em favor os dois críticos, e carimbar as burrices ditas como infantis, é de que talvez, daqui a quinhentos anos, existirão críticos falando as mesmas burrices sobre Paulo Coelho. Ou J. K. Rowling de Harry Potter.
Com uma diferença. Levante o dedo quem já leu Paulo Coelho e Harry Potter? Agora levante o dedo quem já leu Shakespeare? E vou além. De Paulo Coelho e J. K. Rowling, sabemos que as obras são 100% deles. Já sobre o enigmático Shakespeare, não temos certeza disso. Nem de quem realmente foi o “bardo inglês”.
Não seria uma piada saber que um blogueiro qualquer, seja o responsável pela tese de que o ser humano é o que é por sua causa? Num mundo em que cabem Shakespeare e falar burrices, somos sempre produtos do nosso tempo. Do agora. Influenciados pela atualidade. E Shakespeare nunca foi a Woodstock. Não fumou maconha. Não usou LSD ou cocaína. Não ouviu os Beatles. Não usou internet. Não cantou hip hop. Nem funk.