OUTRO POEMA DE AMOR
Outro poema diário de amor?
Pela manhã os versos
surgirão de frases maternas
e seu doce início será:
“Não procure muito longe!
Penteie o cabelo!
Não saia sem lavar o rosto!
O rosto lavado traz a força
para encararmos qualquer desgosto”.
Outro poema diário de amor?
“O primeiro amor a gente jamais esquece,
ele nos diz que tudo acontece:
a torção do seu pé no declive da calçada,
a falha na declaração de sua amada”.
Outro poema diário de amor
que traga certas questões:
“Por que tudo ocorreu assim,
agora e não antes
e com cada um de nós?
Por que neste espelho,
deparo-me com tua imagem refletida?
Por que entre tantos viajantes,
nesta expedição chamada vida,
apertei certas mãos?
Por que no meio da exploração encontrei você?
Trocamos oferendas,
tínhamos a mesma língua...
mas caso tu seguisses em frente,
certamente toparia com outro selvagem,
um primitivo diferente,
não a mim, meu amor”.
Outro poema diário de amor...
esse último o eu-lírico surge compassivamente.
DO LIVRO: AS SONDAS AMAM