OLAVO DE ORVALHO
Nas ruas, ouço ecos da existência dos gados do mestre Ramalho
Sossegados com a equação tempo de vida tempo de trabalho
Nos jornais, leio profecias vencidas do astrólogo Olavo de Carvalho
Rugindo nas redes que a discordância é coisa de acéfalo e paspalho
Nas escolas, vejo loucos atirando ódio com suas armas e chocalhos
Escondendo seus brinquedos junto com seus medos em assoalhos
No parlamento, assisto ‘nobres honrados’ jogando placidamente
Velhas cartas marcadas de um amarelado e decadente baralho
Da cela, acrobatas do Circo Planalto são assistidos por espantalhos
Na milenar arte de se equilibrar habilmente de galho em galho
Iludindo o povo, enquanto remendam mais uma bolsa agasalho
Com suas demagogias que misturam caviar com colcha de retalhos
Na favela, o tráfico arrebanha mais um raquítico e ingênuo pirralho
Que à noite fica reticente a olhar a lua dentro de cada gota de orvalho
E descrente, vê o reflexo de sua vida crua passar velozmente no atalho
Sem a menor esperança de promoção da criança para bandido grisalho.